domingo, 20 de março de 2022

Lembranças

A casa do bonheur… por António Braz Tinham acabado de chegar, vindos de Penhas Juntas onde o Pe. João da Trindade Alves exerceu a sua profissão durante algum tempo. Em Rebordainhos o tio Ernesto dava por terminada a construção de uma casa enorme, com sete quarta sala de jantar, sala de visitas, onde um cão de caça permaneceu 30 dias sem comer nem beber, e sobreviveu! - que só mais tarde a do Sr. Herculano vindo da guiné Francesa a superaria em dimensões. Com as suas economias na tasca que possuía, e a astucia de homem de negócios, amontoou dinheiro, e não era dos de perdoar dividas, antes pelo contrário, os fiadores pagavam. Nestes tempos a D. Denérida que exercia a profissão de professora primária na freguesia de Espadanedo, sentia bastantes dificuldades para se encontrar com o marido, embora a distancia não fosse exagerada, mas era a pés que percorria estes 15Km , Chovesse nevasse ou com um vento de travessia que quase cortava as orelhas. Acompanhada por uma rapariga bonita de nome Aldina, mais tarde era eu montado num cavalo, quem levava os alimentos, - que era como familiar e mais tarde, quando a Angelina veio com o Sr. P.e assim como a Luzia , criada desenvolta e pau para toda a colher, ficava semanas inteiras instalada na casa grande juntamente com a Palmira dos Pereiros, para lavar, esfregar, cozinhar, apanhar castanhas, fazer o folar da Páscoa e tratar dos animais, porcos patos galinhas e até pombas, no lugar da tempa. A tia Irene também esteve algum tempo ao seu serviço, embora não fosse do tempo em que fui chamado para integrar aquela família bondosa e carinhosa como não devia existir igual no mundo inteiro. Pouco tempo depois o Sr. Ernesto faleceu e quem tomou as rédeas do império foi o Pe. Trindade juntamente com a mãe Sr,a Virgínia, Santa mulher que caminhava para os 90 anos. Tinham um caseiro de nome Bernardino, homem rude e de mau caráter que batia na mulher Isaura por tudo e por nada, e uns quantos filhos dos quais apenas me recordo do nome da mais Velha Denérida, creio ser afilhada da professora e da irmã Filomena a minha segunda namorada de pouca duração, porque tempos depois abalaram todos para França para os lados de Gijon. Deixou-me uma fotografia sua, que guardei durante muitos anos, mas acabou por sumir como a namorada que jamais tive notícias. Quando estes caseiros deixaram, fico o tio Artur Alves, familiar afastado entregue aos haveres e trabalhos a executar. Esta família possuía outro casal familiar em Vidoedo onde o tio Manuel e a Sra. “sacoias” nativa de Gondesende e os três filhos já lafraus trabalhavam permanentemente. O Dionisio era o mais velho, seguido do Armando e do Orlando que tinha um ou dois anos mais que eu e de quem me tornei amigo, e mais tarde me estendeu a mão em Paris para entrar na Citroen. Voltamo-nos a ver numa estação de táxis que por coincidência também eles exerciam essa profissão. O Armando era o pastor, pessoa tímida, mas aprazível. Tinha o Pe. Trindade uma vinha e várias parreiras de onde extraiam um trator cheio de uvas. Para as vindimas só eram convidados familiares e amigos próximos. Possuíam também uma em Vale de Nogueira, já próximo de Salsas onde o Bagueixe e o Artur aprenderam a podar, enxertar, abrir e fechar nos seus tempos, esta resultou de uma dívida que não foi paga ao tio Ernesto. Quando o trator entrava em Rebordainhos juntava-se logo uma procissão de gente não para abençoar, mas para tirar e comer que estas iguarias eram raras na terra. Ninguém os proibia a mando da tia Virgínia porque o Pe. Era mais unhas, e astucioso! Sempre quis que a Angelina se confessasse a ele para cusculhar os nossos numerosos flirts, mas eu sempre lhe disse para se confessar ao Pe. Pires, mas de nada serviu porque o segredo da confissão entre eles, quando na sala de visitas e o ambiente aquecia, com boas comidas e uns copitos à mistura, ali era um autêntico “solheiro” gabando-se das conquistas mais fanfarrãs que jamais ouvi, incluindo o adultério, colado á fechadura, não perdia uma. Esta foi uma das rasões que me impediram de ingressar no seminário, e carregar nos ombros a responsabilidade de ser padre que hoje não julgo nem condeno. Fui substituído com 16 anos pelo meu irmão Henrique que também teve as suas aventuras, e depois pelo Armindo pais, já quando as duas mulheres mais bondosas do mundo só obedeciam às exigências do Pe., Trindade.

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