quinta-feira, 19 de maio de 2022

O primeiro beijo

A lua começava a desaparecer por detrás da serra cedendo o seu lugar à aurora, em tempos de verão, e em manga curta, com uma camisa de tecido barato, provavelmente comprada na feira dos Chãos, para a ocasião, era a festa da Aldeia, e os pais, mesmo sendo pobres, sacrificavam uns tostões, guardados naquela arca de grandes dimensões onde guardavam algum centeio ou farinha,(pouca) e as guloseimas, tais como salpicões chouriças, para que a filharada não fosse tentada, servindo para ocasiões especiais, aquele rapaz de 16 anos não arredava pé, petrificado ao solo como uma estátua. O arraial tinha acabado tarde, logo após a última descarga de foguetes cujas estrelas coloridas e cintilantes desciam do céu até se desfazerem, perante os olhares admirativos dos presentes, ouvindo-se aqui e ali, uns ais admirativos, ou uns “ós” surpreendentes de satisfação e alegria, à medida que lentamente cada um regressava aos seus abrigos para dormir uma boa sonata. As canas continuavam a cair com uma lentidão desconcertante, suspensas pela gravidade ou pelo ar, para finalmente se expandirem nos terrenos cultivados, telhados e lugares proibidos sem pedir autorização, nem ouvir os manifestos de desagrado, quando por acaso ateavam fogos, tarefa nas previsões dos mordomos, que chamavam previamente os bombeiros agando com o orçamento da comissão de festas. Foi uma noite inesquecível para os dois! Dançaram a noite toda enlaçados num pudor digno de respeito, mesmo que os costumados vigilantes não estivessem por perto. Os corpos enlaçados davam sinais felizes, e as palavras, poucas, mal se ouviam com o ruido do arraial. Também não eram necessárias. Um olhar meigo e terno, as mãos que apertavam cada vez mais, aquele cheiro a paixão que sempre calava tanto que havia para dizer… mas que sempre guardaram para eles, mesmo sabendo que o inevitável os separava. Dois amores que a maldita ambição de um, e a vulnerabilidade do outro separavam durante algum tempo, e o encanto os reunia novamente. Tempos antes quando ele a esperava, já noite escura e lhe perguntou; -Queres… namorar comigo? - Nunca na vida Correu para casa deixando o adolescente ferido profundamente, como um cão a quem negam um osso. Foram oito dias terríveis ecoando no seu cérebro a resposta que sangra. Porquê? Sou um miserável que se deixou embobinar pela ilusão. Mas porquê tantos sinais convergentes? Tempos depois foi-lhe entregue uma carta a explicar a resposta. Uma mulher não pode dizer sim à primeira vez porque o julgamento do pretendente pode ser o de uma mulher fácil…-Sim quero e esperei a semana toda que viesses ter comigo. Quando dois seres humanos se amam desmedidamente serão necessários costumes insensatos? Foi a noite do primeiro beijo, aquele que arrepia e faz o corpo estremecer como se mais nada existisse no mundo… o contato carnal a responder aos sentimentos profundos. O rapaz andou ao acaso, sem ver nem ouvir, apenas com o sabor do beijo maravilhoso trocado com a mulher que amava profundamente. continua Por António Braz Passados dois anos, ela tinha feito a admisão ao liceu, e com a a ajuda de familiares, instalou-se na cidade onde morava gratuitamente, alimentada, e como os pais não eram abastados, valeu-lhe o auxilio de terceiros para chegar ao 3º ano sendo demasiado extrovertida e pouco afeita aos estudos, que as más ou as boas linguas propagavam como a boémia do bairro. Tudo o que se contava por lá chegou ous ouvidos do rapaz, mas, mas o amor é cego surdo e mudo, e el amava-a apaixonadamente. Encontravam-se nos fins de semana a distancias impostas pelos familiares, que apenas davam para amortecer as sudades num troco de um olhar tédio e um sorriso onde estavam escritas as mais belas frases do mundo.Próximo dos seus desoito anos o rapaz resolveu ir tentar um viver nelhor no estrangeiro, carregando o peso imenso de se separar daquela que amava profundamente, e a probalidade de ser trocado por outro. Entretanto ela foi enviada para Lamego como formadora, e durante esse tempo, quando o rapaz voltou à terra de férias, a traição andava de boca em boca. Quem ama verdadeiramente perdoa tudo, sobretudo quando se é ricipocramente infiel, palavra que para ele não tinha significado. Os encontros secretos, presenciais, onde podiam dar asas ao desejo, e colmatar 20 anos de um namoro proibído ou apenas não desejado, com lágrimas derramadas nas despedidas, pedidos de ir viver para África, e aventurar-se a convencer os familiares de que também queri ir morar para o estrangiero onde seria acolhida pela irmã.Como já estava prevista a partida do rapaz "dando o salto", anoitecia quando veio anunciar a sua partida com, ele já com o acordo da família. Como não esperava semelhante revelação, ficou estupefato e apenas dise: A vida de emigrante é difícil e complicada, tens a certeza que é isso que desejas? Amo-te e contigo seria capaz de ir até ao fim do Mundo

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