sexta-feira, 10 de junho de 2022

Dia de anos

Os aniversários por António Braz Supostamente dias de felicidade paz e amor, comemorando-os alegremente, entre familiares e amigos, numa mesa grande onde são servidos repastos congruentes e o ditoso bolo com as velas correspondentes. Ouvem-se os ruídos das rolhas a saltar, de garrafas de champanhe Francesa para os mais abastados, ou espumante, para dar mais ênfase ao acontecimento. N’um sopro apagam-se as luzes, e tudo o vento levou, durante mais 365 dias para os mais sortudos. Cantam-se os parabéns ao aniversariante, confusão que gera no meu cérebro bolinhas de sabão que se desfazem como diluídas junto de um iceberg poderoso e ficam invisíveis, ou talvez se escondam, por detrás de uma realidade, como uma bomba a conta-relógio, aguardando silenciosa o momento certo para rebentar, não havendo certezas absolutas de quem ordena ou programa. Gostava tanto de fazer anos! Era miúdo, sempre fui, até que chegou a reforma pela qual tanto ansiava. Despautério do trabalho onde me sentia como o peixe na água. Na minha imaginação, após 38 anos de descontos, merecia visitar lugares, mas sobretudo calar aquele despertador que me tirava do sério, mas a imaginação prega-nos destas partidas… raros são os que começam a pensar numa velhice que vem roubar-nos tudo dos pés à cabeça. O tempo que até então corria sem ser visto chega em pés de lã silencioso, matreiro requerendo os lugares para os recém-nascidos. O que muita gente chama viver, vai-se tornando num calvário que vamos subido de cruz às costas corrompidos por artroses, hérnias ou outras doenças oncológicas que nem escolhem idades, derrames cerebrais, ataques vasculares cerebrais, que nos atiram para uma cama ou cadeira de rodas. Feliz aniversário – Dizem por consideração e respeito muitos dos que não sabem que os vivos já há tanto tempo que morreram! Quando já não se pode comer de nada, nem beber, nem sair, e muito menos fazer amor com a companheira de uma vida que resta? Tomar de 10 a 20 comprimidos por dia para prolongar uma sobrevivência de atrocidades e mentiras, Para quê?

Sem comentários: