sábado, 15 de abril de 2023

Miss universo

Miss universo 1965 AB Nasceu de um acasalamento forçado. Sua mãe trabalhava naquele grande palácio como técnica de limpeza, era casada e tinha mais dois filhos, que viviam todos numa barraca sem conforto nem dignidade, com o magro salário da mãe e uns biscatos que o pai ia fazendo quando era solicitado. Nos arredores de Goa após a libertação dos Portugueses, numerosos foram os poderosos a quem não se podia recusar nada. Era recorrente nestes palácios banhados de ouro, os homens poderosos escolherem a escrava que lhe massajava os pés e não só, e com elas acoplar se tal o desejassem. Se emprenhavam ou não já não era com eles, que nunca reconheciam os filhos extraconjugais, como confetes lançados ao vento e suas cores iam-se tornando em pó para desaparecerem completamente. Kauane foi o nome que lhe deram à nascença nascida de um parto miraculoso, arrancada do vente da mãe com métodos bárbaros, e colocada no seu colo com desprezo, porque só homens tinham o direito de nascer, (mulher não serve para nada) – diziam eles enjoados e enfastiados vomitando pelos cantos a desgraça humana. Era uma menina cuja beleza captava os sentimentos mais asquerosos do mundo. Faces ligeiramente melancólicas, olhos verdes boca e lábios dignos de uma princesa. Media 53cm e pesava 3kg. Ninguém reparou, só a mãe ao beijá-la murmurou: minha filha linda que deus tenha compaixão de ti. Toda a sua infância foi passada como a das outras meninas, jogando ao salto da corda ou danças improvisadas onde aqueles pés nus, e famintos transmitiam para os lábios carnudos o sorriso da inocência a alegria de viver ainda que fosse na miséria e no desprezo. Tinha uma inteligência fora do comum, que de pouco ou nada lhe serviria se não fosse resgatada por milagre. E foi. Tinha 12 anos quando uns turistas Americanos se encantaram da sua beleza. Quiseram adotá-la, mas o progenitor recusou. Eram pessoas abastadas que não desistiam, pelo que trataram de encontrar um colégio interno onde a pérola rara pudesse viver em paz e seguir os estudos. Todos os pagamentos eram efetuados mensalmente E tinha a visita destes estranhos que para ela era o milagre concretizado. Tinha dezassete anos quando revistas e jornais se aperceberam da preciosidade que fazia envejosos por todo o lado, quando completou dezoito concorreu a misse India que ganhou com grande vantagem. O seu futuro estava perto dela, mas existiam contradições que a impediam de voar. Encontrei-a um dia frente ao hotel Geoges v em Paris onde exercia a profissão de táxi driver. Era o primeiro da fila e fiquei deslumbrado com tanta beleza. Media agora 1m78 de uma elegância que todos os passantes paravam para acreditar. O seu vestido prateado dava-lhe o contraste com as longas pernas e sapato a condizer. Pelos ombros meio denudados trazia um casaco de bisonte, para reter os olhares. Entrou para o meu carro e o sangue paralisou-me nas veias. -Good morning, kene you take me chez Maximx. Claro minha linda senhora? Fala português? Sim é o meu País e o seu qual é? Goa India. E ainda se falo o Português. Poco mas eu gosto muito de falar. E que faz em Paris? Tenho um concurso, mas meu pai não quer que ande nesta vida. Porquê? Uma longa história, mas se quiser saber tudo o convido a almoçar connosco. Pode ser? Seria com imenso prazer, mas vestido como estou não me deixam entrar. Deixe isso comigo, à miss universo não se lhe pode recusar nada... AH! Naquele momento entreguei todo o meu ser àquela belíssima mulher, sem ela saber, e certo que não passaria de uma ilusão. Contou-me a sua história do princípio ao fim e uma lágrima deslizou pelo seu magnifico rosto e parou num dedo meu. Fuja- aconselhei, na américa poderá realizar todos os seus sonhos. - Não posso, e gosto do meu país e dos meus irmãos que ajudo frequentemente. Então vai voltar para a prisão? Chame-lhe como quiser, mas é o meu País… Quem me dera poder resgatá-la, mas os meus poderes sãos frágeis… deixe lá a vida é assim. E pelo menos pode dar-me um autografo? -Mais que isso um beijão … posso? Nem me pergunte a minha paixão por si começou ao sair da porta do Georges v Um riso malicioso apagou aquela chama de sonhos

Sem comentários: