sábado, 1 de abril de 2023

Charles Trenet numa das suas lindas canções perguntava ao público em delirio, naquela voz peculiar: Que reste-t.il de nos amours, de ces beaux jours de la jeunnesse? E a resposta era; une photo vieille photo qui nous porsuis sans cesse. Amarelas sem brilho nem pudor, no fundo de uma mala, também ela velha, ou nos recantos mais sombrios da casa onde nascemos e nos criaram com as adversidades inerentes que a sobrevivência exigia, sós abandonadas, libertas por recordações de tempos em que pouco significava muito, e nos contentávamos-mos com migalhas de pão ressequido e metade de uma noz, sedo as partilhas fundamentais para que as diferenças, hoje em relevo, calassem o egoísmo excêntrico, na luxuria que alimenta tantos defeitos, mas sobretudo na hipocrisia, doença secular, que agarra e envolve o ser humano se se pode falar de humanismo. Hoje passei por lá e recordei com lágrimas nos olhos, tempos que também me pertencem; tinha voltado do estrangeiro rapidamente me integrei naquele sistema de viver tendencialmente rude, mas sobretudo exigente. Possuía a casa, duas juntas de vacas, um rebanho de gado, uma égua amarela grande e forte e um trator, para além de galinhas porcos que alojavam em todo o lado. Na parte superior um grande palheiro repleto de feno, a repartição dos arrumos em uso e uma varanda que tinha servido de casa habitacional. Ao lado o forno onde metiam 23 centeios nos dias de coser. Por cima a casa das batatas semente e consumo onde cabiam toneladas delas. A varanda reservada ás flores da patroa dependuravam-se na parede cebolas entrelaçadas em terminação de secagem. Mesmo no canto partilhavam o espaço coelhos e pintainhos em crescimento. Em frente a grande adega com o seu lagar de 200 almudes, e grande quantidade de pipas de 70 a 11 almudes alinhadas por cima de grossas traves de madeira. Invejada e elogiada era a melhor adega de Murçós, construída por intendentes vinhateiros para manter o briol sempre à temperatura ambiental. Arrumados num canto os grandes potes que serviam à destilação da aguardente que cumpriam funções de 15 a três semanas. São recordações que mechem imenso comigo onde o filho João que trabalhava em parceria com o pai, um homem como já não se fazem embora tivesse os seus pequenos defeitos, estava sempre pronto para ajudar o próximo, a palavra dele valia milões, e a sua casa é a prova viva de que ali entraram muitos amigos e saíram saciados e convictos das pessoas bondosas que viviam naquela casa. Homens de negócios variados, honesto e trabalhador em quem se pode depositar confiança. Quando o seu caminho chegava ao fim, invadiu-me uma grande tristeza. Porquê os gigantes também caem? Ídolos como o filho João roubar-lhe a vida não é justo. Podemos ser crentes ou não, mas os princípios e valores ninguém pode passar a borracha por cima.AB

Sem comentários: