domingo, 27 de maio de 2012

O barco à deriva


Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
É longe meu sonho,
E traiçoeiro
O mar…
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é ela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)

Prestes, larguei a vela
E disse adeus aos cais, a paz tolhida.
Desmedida,
A revolta e mansidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura…
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga

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