terça-feira, 1 de maio de 2012

Sra. Professora D. Aurora

Professora D. Aurora e alguns alunos
 A escolaridade em Murçós de A a Z
                    1ª parte



Nos anos 50/60, em Murçós como na maioria das Aldeias, do Nordeste Transmontano, a escolaridade, para além de facultativa, os encarregados de educação, quase sempre os pais, abdicavam facilmente da aprendizagem dos filhos, julgando mais importante, eficaz ou necessário, para a sobrevivência familiar, ajudar nas funções agrícolas, as quais lhe asseguravam, o pão e o caldo diário. Aqui e ali, surgiam casos raros, nas famílias mais abastadas, mandavam-nos estudar.




As escolas, antes de edificarem as que atualmente se encontram abandonadas, ou servem projetos de pouca utilidade pública, alugadas ou emprestadas pelas Câmaras, às juntas, associações etc., assinando um protocolo, cariciavam de conforto, espaço, condições mínimas, para que os alunos pudessem aprender sem restrições nem contrariedades, materiais e físicas. Numa casa normal, com uma grande sala, no topo das escadas, estábulo de animais por baixo, soalho em estado degradante, duas janelas no 2º andar, a Sra. Professora D. Aurora, ensinava dezenas de alunos, da 1ª à 4ª classe, mais concretamente os de 3ª e 4ª, cuja preparação para exame, requeria numerosos esforços, das duas partes. Já depois dos horários normais, a D. Aurora, reunia, sobretudo os da 4ª classe, nos baixos da sua casa, improvisados para o estudo complementar de apoio, dos que iriam a ser examinados, não concebendo uma possível reprovação. Hoje fala-se de alunos rebeldes, agressivos, que não respeitam os professores, nem dentro nem fora das escolas… não era assim no tempo da Sra. Professora D. Aurora. Os métodos repressivos considerados bárbaros, arcaicos e outros adjetivos qualificativos, produziam a eficacidade desejada, e, os encarregados de educação não interferiam a favor dos seus educandos. Quem não se recorda da existência de uma régua que servia para dar palmatoadas aos que falhavam quer na aprendizagem quer no comportamento cívico, e a vara de marmeleiro que avermelhava as orelhas? Pessoalmente, apesar de não ser favorável a tais métodos, estou imensamente grato aos meus professores primários, ficando a jamais no esquecimento, um ou outro, que outrora me revoltou, compensado com o benefício que deles usufruí.
A Sra. D. Aurora e seus alunos da 3ª classe adoravam a leitura dos lindos textos e poemas existentes… e, quando chegavam à 4ª classe, com ela aprenderam: os rios de Portugal, onde nasciam e desaguavam; as serras e sua altitude, as linhas de caminho-de-ferro e cidades por onde passavam, os oceanos, a Geografia. Os verbos e suas conjugações, adjetivos, substantivos, caligrafia, ortografia, e síntese, a Gramática. As Ciências Naturais, era outra das disciplinas que os alunos, não só aprendiam, como decoravam. O corpo humano e as suas divisões, ossos da ponta dos dedos até à ponta do cabelo, plantas com suas derivações, os diferentes seres vivos. Os Reinados e seus reis faziam parte da História de Portugal, onde apareciam os descobridores, Etc. A tabuada decorada de lés a lés, as contas, somar, subtrair multiplicar e dividir; os complexos problemas; reduções, frações, percentagens, aritmética, trabalhos manuais, desenho, enfim… isto é um pequeno recapitulativo da quantidade e qualidade de ensino e aprendizagem.
Bem-haja Sra. Professora, pelas bases inculcadas, à juventude desse tempo, para mais tarde, alguns deles, se tornarem homens da Ciência, e outros usufruíram do que aprenderam para o transmitirem às novas gerações. Que a sua alma descanse na paz dos anjos, e a minha homenagem congratule orgulhosamente os filhos de Murçós, seus discípulos



Antiga casa da escola, nas duas janelas de cima

A Professora e algumas alunas
Aqui, baixos da casa da D. Aurora onde havia estudo de apoio

Esta era a casa da D. Aurora enquanto professora em Murçós

1 comentário:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Bem sei que a D. Aurora não foi tua professora, por isso te fica ainda melhor a homenagem que lhe prestas pois, através dela, homenageias todos os professores primários que tanto de si deram aos filhos mais desfavorecidos do nosso País: os das aldeias do interior.

Beijos