As Aldeias do Nordeste transmontano, tentam por todos os
meios salvaguardar, tradições de atos e feitos, que para bem enfeitaram o
quadro das nossas vidas, ou os desmoronaram na cor e enquadramento, tornando-os
abstratos. A reconstituição esporádica, com o intuito de implementar às novas
gerações aquilo que o vento levou, é, segundo a minha opinião, o retorno no
tempo, que nos serve de revolta, de vingança ou simplesmente alivia aquele
sentimento de vitimização… Porém, sabendo que qualquer escritor, só atinge o
auge da carreira servindo para a posteridade, e se inspira do passado mais que
do futuro, e não sendo fã da ficção cientifica, apraz-me ler tudo quanto tiver
um relacionamento direto com o antigo, que tal como o vinho do Porto, quanto
mais velho, melhor…
Tive, a noite passada, um sonho relacionado com tantas
e variadas tradições que me deu a ideia de escrever qualquer coisa sobre
algumas delas
No meu sonho vi planícies verdejantes, encostas cobertas de
cereais, que o vento ondulava, como um Mar calmo e sereno… espigas douradas
pelo Sol… grupos de ceifeiros cantarolando… um deles segurava o pipo do vinho…
outros levavam metidos nos dedos das mãos os chamados “dedais” de sola rija
para se protegerem de um acidental corte da “foice,” (ceitoura ou gadanho)
pendurados à cintura… havia também o da concertina para animar o cortejo! E, na
frente, de cabeça erguida, andar compassado e firme, seguia o patrão… aquele
que pagava por isso ordenava… os que ceifavam, à direita, ao centro, à esquerda…
os que atavam os “molhos” e os que formavam as “mornalheiras”, como uma
escultura, arquitectural, inteligente, fundamental para manter o cereal seco, e
a espiga intacta.Vi carros puxados por bois e vacas valentes(acarrejas)
corajosos, fieis e merecedores da confiança que o boieiro deposita nos animais,
conhecendo-os, educando-os nutrindo-os carinhosamente. Carros de madeira(freixo)
feitos pelo carpinteiro da terra, do eixo, rodeiros, varas, engarelas e
tarraxas as quais apertadas com um fecho metálico, entoam um chiado significativo
de carregado, consequentemente de abastança.
Numa das grandes eiras havia várias medas, quadradas, rectangulares
ou redondas, de grandes e pequenas dimensões, segundo as possibilidades de cada
um, mas, todas constituídas com o mesmo formato… espiga para dentro para não
humedecer.
Seguem-se as malhas, umas após outras, porque as malhadeiras
(debulhadoras) ,que o grande motor de ferro fundido faz manobrar através das
numerosas e resistentes correias (enrrezinadas) existentes são poucas, e a “torna
jeira) é a maneira engenhosa de
concretizar tarefas árduas que requerem muita gente, ao mesmo tempo.
Foi um bom ano… a “tulha” encheu-se de “grão”, e o patrão
respira profundamente, agradece, e dorme toda a noite descansado.
No meu sonho apareceu também uma dobadoira, (alcunha
elogiosa para uma mulher dinâmica) a roca e o fuso, que as mulheres, nos tempos
livres, sobretudo à noite nas veladas, utilizavam para fiar o linho ou a lã de
ovelha, dividiam em meadas, daí o dito:
(não perder o fio à meada) depois juntavam em grandes novelos , para fazer “soquetes”
luvas e meias, manualmente, bem quentinhas… assim como os cobertores tecidos artesanalmente.
Nota: as fotos não são da minha autoria... foram partilhadas em vários lugares do google |
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