quinta-feira, 29 de maio de 2014

Fernando Calado

… quase poema… ou da desesperança

Mateus 19:24: “...é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”. E as palavras do evangelista ecoam como um sino altaneiro à beira da memória.
Envelheceu e pouco se lhe dá que levem tudo… que a terra fique deserta… e os montes, na ausência do pão, abriguem carrascos e estevas… que levem tudo…
As contas hão-de se fazer, no final do tempo, lá para os lados dos sete estrelos.
E resignado diz: - a horta me basta… e a galinha será promessa do ovo fresco de cada dia…e o porco vai agasalhar muitos Invernos… e a magra reforma repousa ao canto da arca… para uma doença… tempo incerto.
…que ninguém se ria pelo o meu Clube perder no azar do golo matreiro… e que o meu vizinho não se ria pelo meu Partido ter perdido as eleições…
- Ora essa… era o que faltava!
E a velha mais velha, no abandono do filho…lembra-se:
- o meu filho foi à tropa… menino lindo… a marchar… a marchar… e só o meu filho acertava o passo… ao toque do tambor!... que tontos os outros soldados que não acertavam o passo!... ao toque do tambor…
… meu menino lindo!... tu é que sabes… pois então!
… ao toque do tambor, ao toque do clarim!
E a dizer sempre sim!

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