domingo, 28 de setembro de 2014

VINDIMAS EM MURÇÓS


 Tempo das vindimas, com o outono a notar-se por entre a ramagem e folhagem, e um colorido misto, encantador mas igualmente penoso, com as folhas mortas a “tapetear” o solo húmido, verdinho com a ajuda das frequentes chuvas derramadas durante este fim de verão, as quais são bem-vindas – clama o arvoredo meio “desidratado” pelas condições atmosféricas em considerável subida, sujeitando os lençóis de água terrestre a ficar aquém das expectativas desejadas, sobre tudo pelos Aldeões que sempre pediram a Deus ( sol na eira e água no naval)…
Voltando ao assunto que me trouxe aqui, as vendimas, não vou repetir as queixas de já não ser como antigamente quando entravam em Murçós carros e carros carregados de uvas belas e doces, apenas dizer que se vendimam as que há e em locais próximos do povoado, pois o reumatismo, artroses e as doenças da velhice, não toleram nem permitem folias excessivas àqueles que persistem em perpetuar os usos e costumes herdados dos nossos antepassados louvados pela transmissão direta ou indiretamente.
Fim-de-semana de vindimas prolongado, porque a metereóloga anuncia água para o início da próxima 
 semana, e as uvas apesar de ainda requerer mais uns tempos agarradas ao seio maternal, começam a apodrecer, transtorno e perca de dinheiro em tempo de crise, há que fazer cuidado com um único cêntimo que seja. As carnais mais vulneráveis, essas pediam mesmo para ser cortadas… o alvarelhão dava amostras de impotência… e até o pequeno, mas doce, bastardo, tendia a encolher… pelo que neste fim de semana, foi mãos à obra para toda a gente; velhos e novos, doentes, aleijados, mandriões… não ficou uma alma a guardar as casas, porque até os ladrões deviam andar à vindima lá para os lados de sem-fins!
Há quem diga que é uma brincadeira, na verdade, apesar de ser divertido umas “horitas” também é cansativo; três dias de “quadris” vergados, já não se ouvem as “landonas” contadas pelos peritos, e o 
 “moer” de um vago para aqui outro pala ali não satisfaz o estomago ansioso que o clarim toque para a merenda, que toda a gente suspeita ter a melhor constituição dos produtos regionais, reservados exclusivamente para esta ocasiões… e sobre a toalha estendida no chão, pratos de esmalte e rodilhos de linho puro, começamos a enxergar o salpicão caseiro, a chouriça, as sardinhas albardadas, o polvo passado por ovos, o presunto gostoso, a grande roda de ovos fritos com salsa batata ou pão ralado… o queijo de cabra inigualável das Cabanas ou Mós de Selas, ou então o de ovelha das nossos serras, durinho a picar na boca, requerendo boa pinga, que não inveja o da Serra da Estrela… os olhos não se erguem para o céu, e as uvas apalpam-se apenas, todos à espera do gesto que liberte o sofrimento dos rins, e não só…
“Verdadinha” que são os melhores momentos da vindima. O convívio e a animação fazem esquecer os percalços da vida que tanto afligem os seres humanos.




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