Dia de sorte
22/11/2020 por António Braz
Alfredo o
amigo de José, foi largado por este e a namorada junto ao rio, a uns 300 metros
de sua casa para onde correu como louco, tantas e tão grandes eram as saudades
de estar com os seus entes mais queridos, que o esperavam de pés firmes e o
olhar procurando vê-lo vislumbrar ao longe após o seu telefonema recebido, onde
especificava a sua visita, sem mais pormenores. Seguindo viagem, para casa de
Cindia, a explosão deu-se logo após a saída do outro passageiro. Se até então a
rapariga se tinha mantido calada sem manifestar o descontentamento que a tinha
desiludido e ao mesmo tempo ferido no seu amor próprio, revelava-se agora
agressiva vaziando o saco sobre o pobre rapaz, que não encontrava argumentos
que pudessem ajudá-lo, a voltar à razão aquela moça com quem tinha simpatizado,
idealizado projetos, e, apesar de não sentir por ela uma grande paixão, os seus
sentimentos eram honestos, embora não tivesse sabido lidar com a situação… -
Perdoa-me, suplicou-a José prometendo no futuro estar mais atento aos seus
deveres de namorado – mas nada resultava. Estava decidida a por fim àquela
relação que mal tinha começado, o suficiente para compreender que não era o
companheiro que queria para a sua vida, e muito menos ser a progenitora de um
filho seu. Saiu do automóvel sem sequer se despedir, e antes de fechar a porta
ainda lhe atirou ao rosto: - Não te quero ver mais, pelo que se nos
encontrarmos no mesmo passeio peço-te que finjas que não me viste.
José ficou atônito,
petrificado sem saber o que fazer. Ainda pensou ligar à mãe onde encontrava
sempre o seu refúgio, e as soluções mais sensatas, era apenas nela que depositava
inteira confiança, mas, tinha um compromisso com Alfredo, que era voltar ainda
essa noite à herdade dos avós, passando por sua casa nos Arcos.
Novamente,
na sua cabeça turbilhonavam descontroladamente ideologias preponderantes,
conflituosas, com mais atividade divergente, atirando-o para aquele beco sem
saída, do qual julgava ter saído, começando a usufruir de uma felicidade a prazo,
que voltara antes de cumprir o tempo de tréguas que ninguém tinha fixado, só
ele esperançado acompanhava cegamente. Tudo voltava à casa de partida, de onde
não conseguia descolar, por muitos esforços que fizesse! Foi tentado a
desistir, só, ali dentro daquele carro, encostado na berma daquela estrada que
se tinha tornado medonha, fria, tão fria… solitária, onde as árvores lhe
apontavam o dedo da culpa, e os sons lhe martirizavam os tímpanos, e, de olhos
fechados revia a sua nascença, num dia de sorte, ou talvez de azar, por lhe não
faltar nada, mas tinha falta de tudo o que é necessário para poder avançar ao
ritmo do amor da paz e da alegria. Chorou como um miúdo num soluçar que fazia a
terra tremer, que era apenas o ronronar do motor que aguardava diretivas do
mestre para avançar.
Após longo
tempo de ponderação, lembrou-se que Alfredo o esperava para voltarem à herdade
dos avós. – Meu deus!
Arrancou
fazendo os pneus cantar ao contacto do solo, olhando apenas em frente, porque
estava atrasado, e Alfredo não tinha culpa dos seus problemas. Chegou ao lugar
marcado em Arcos onde o esperava o amigo, estiveram ali mais pessoas que o
queriam conhecer, inclusive a namorada deste, mas era já noite e José não
encontrava a desculpa necessária para esta demora. Durante o resto do trajeto
falaram apenas no tempo de felicidade que Alfredo viveu na companhia dos seus
durante aquelas poucas horas
Sem comentários:
Enviar um comentário