quarta-feira, 6 de julho de 2022

Dia de sorte 52

Dia de sorte 52 por António Braz 75 anos ao Serviço da Educação Colégio Liverpool - Situado em pleno centro da cidade do Porto (Rua da Torrinha-37). Regime de Internato, Pensionato e Externato. Do pré-escolar ao Secundário. Ensino subsidiado pelo Estado. Foi neste colégio, como utente internato Que Fred, com apenas 6 anos de idade, foi deixado pela mãe com o consentimento dos avós, após ter vivido aos cuidados de uma criadeira desde a sua mais tenra idade, porque os avós, não sentiam o mínimo afeto pela criança que a mãe, jovem e irresponsável só via uma solução, entregá-la numa instituição para adoção. – Foi a senhora que me meteu nesta ratoeira, não queira infernizar-me a minha juventude que me espera para ser vivida como os outros jovens, libres, sem responsabilidades nem obstáculos que me apodreçam o viver. -Ingrata, insensível: foi essa a lição que retirou da sua própria mãe? - Deixe os meus pais fora deste assunto, que a senhora programou pormenorizadamente, como uma bruxa malvada, uma desavergonhada sem escrúpulos. Eles não sabem e nunca saberão, porque o filho é o seu desejo, a sua dor de cabeça, que a consciência desumana alimentada pelo receio de perder um império que qualquer Juiz levaria para a cadeia. Eu também tenho a minha parte de leviandade, mas o arrependimento não corrige os nossos erros, subornar uma miúda é crime. Fred não tinha conhecimento das atrocidades que as duas mulheres engendraram secretamente, como Francisco o pai biológico também não tinha. Limitou-se a enviar mensalmente uma pensão alimentar superior à exigida. Supunha que vivesse com os avós paternos e que nada lhe tivesse faltado. Mas a realidade por vezes traz-nos destas surpresas desagradáveis onde os filhos bastardos são o reflexo de sentimentos irrefletidos, de procedimentos que envergonham os pais, e a consciência grita pedindo socorro para remediar o lado ascosos que nem a mais pura das razões consegue atenuar. Ficou estupefacto com a confissão do rapaz, furioso como um touro bravo, mesmo não tendo conhecimento da realidade na sua totalidade. O filho tremia a cada vez que Francisco se levantava e dava murros na mesa onde lhe eram servidas algumas refeições. Baixava os olhos para não ver aquela fúria que não compreendia nem assimilava aos graves acontecimentos. Tinha sido educado no colégio onde apenas lhe tinha faltado carinho e amor. Acostumara-se a um viver que o mantinha lucido e brilhante nos estudos, educado e respeitador que os superiores elogiavam, como se elogia um robot. Francisco andava de um lado para o outro do quarto como prisioneiro de um crime que agora lhe roía o corpo e a alma, não sabendo que fazer. - Guardava-te aqui comigo – pensava ele – mas como seria o futuro com dois estranhos a dormir debaixo do mesmo teto? Contudo perguntou-lhe: Gostarias de viver aqui comigo sabendo que te rejeitei, e que tenho pouco jeito com os adolescentes, sobretudo contigo que nos vimos hoje pela primeira vez? - Sim gostaria que tentássemos. Mesmo que… no colégio falaram-me de si. - ah sim! E que te disseram de importante? - Já tenho idade para compreender muitas coisas, ás quais não dou a mínima importância. Somos fruto do amor ou do desprezo, mas não pedimos para nascer… qualquer que seja o caminho pelo qual enveredamos, ou sejamos obrigados a enveredar. Bateram à porta. O pai apareceu aflito pelo ruído que em baixo se ouvia. - Ainda bem que veio… temos uma longa conversa para esclarecer. Em primeiro lugar queria pedir-lhe para deixar de me considerar como filho. Os meus pais morreram. Quanto ao Fred, quando terminar o ano escolar vem viver aqui comigo. Vou tratar do seu ingesso no estabelecimento escolar, e, entretanto, só lhes peço que o levem visitar os meus avós queridos, tenho a certeza que na casa deles encontrará o carinho, paz e amor, que lhe faltou até hoje.

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