segunda-feira, 11 de julho de 2022

Se todos os caminhos nos levam a Roma porque me perco eu num labirinto de encruzilhadas, em parques, nas ruas que já conheci, em viagens jamais efetuadas, sem aviões nem barcos, nos braços afetuosos de amores impossíveis, nas conversas supostamente interessantes, na porta da minha casa onde tento introduzir a chave e não abre? Toco a campainha e ninguém aparece, nem sequer ouço o ladrar do cão que em tempos me lambia os dedos manobrando o rabo da direita para a esquerda num afeto terno de fidelidade que expandia num murmúrio indecifrável aguardando umas festinhas para compensar tanta dedicação e amizade pelo pouco que esperava em troca… são tantos os caminhos que conduzem a Roma! Porque não os enxergo? Tal como os seres humanos, fecham-se em copas em lugares invisíveis. Vivem só com eles e para eles, trancando portas e janelas não venha um passageiro qualquer mendigar dois dedos de conversa, ou até ressuscitar coisas e lousas que adormeceram há anos! Da varanda vejo ao longe brincadeiras de miúdo, e ouço a minha mãe chamar para cortar uma gabela de lenha verde que o fumo nos faz chorar à noite como madalenas, enquanto comemos uma “malga” de caldo de couves para enganar a fome que não nos deixa dormir com a barriga a dar horas! Vejo piões a rolarem no prado, alguns a “ferrungar” feitos pelo tio Graciano de pau de amieiro trazido às costas da ribeira, e os garotos dançavam em volta como os indígenas no seu ritual. Jogo á bola com rapazes que já não reconheço… tem feições tão diferentes! Os campos também se tornaram tão pequenos que não cabemos todos dentro. Danço um corridinho na casa da Mavilde com a sofia que me ensinou e tantas vezes lhe pisei os pés… ao lado, encostadas a um tabuado, a Fernanda e a irmã esperam ser convidadas de preferência por aqueles que fazem palpitar os seus corações, lindas, com um penteado extravertido… nunca mais as vi. Onde andarão elas? Que saudades de encontrar o caminho que leva a Roma e levar comigo aquela juventude que deslizava nas poças cobertas de gelo na fonte grande, espinheiro, cubelo e prado para de novo brincarmos alegremente sem preceitos nem preconceitos… são tantas as encruzilhadas

Sem comentários: