domingo, 30 de outubro de 2022

Convivio em Murços

O dia amanheceu chuvoso e carregado de nuvens pretas onde se escondiam os que para a eternidade voaram e atentamente vigiavam, os que por cá ainda ficavam, restringidos ao que dois anos de pandemia ditavam, medos e desesperos pelos cantos da casas entranhados que uma pobre mascara ia cobrindo, sorrisos e olhares fugindo, escravos da solidão, vitimas que jamais voltarão, choros e lágrimas de dor, gritos de raiva que nos levaram à ilusão de nunca mais nos podermos encontrar, conviver juntos com ar, e tantas patetices sem importância espalhar. Este convívio realizou-se em Murçós; Numa antiga escola transformada onde compareceram de todas as gerações às centenas. Esta visita tanto tempo esperada, e por entre os convivas de todas as classes sociais aprovada, trazia no ventre com vida, razões pelas quais nunca foi esquecida. Comprimentos, beijos e abraços, sem preconceitos nem obrigações, eram as saudades a falar naqueles vulneráveis corações. Assentados em mesas banais, comungando do mesmo pão, bebendo do mesmo vinho, e a sardinha assada, deixou lugar ao porquinho, na brasa bem “assadinho” não esquecendo as ricas entradas, azeitonas, queijo e presuntinho. Depois veio o caldo verde, como delícia vinda da horta, confecionado pelas mãos de fadas, uma delícia que a tradição aporta. Cá fora onde permaneciam os mais jovens, porque já dentro não cabiam, retiravam do assador bem quentinho que comiam com pão e vinho. Mas que grande alegria pairava naqueles jovens rostos, era à vez quem mais “landonas” contava, entre gargalhadas e risos que só isso os alimentava. Surgião recordações de velhos tempos e de agora, e no meio de todos eles ninguém ficava de fora. Os assadores balançavam-se para não deixar queimar as castanhas, havia estoiros de vez em quando com cheirinhos bem estranhos? Trovoada diziam os culpados, com ares de verdadeiro, mas logo começavam a rir do último ao primeiro. A castanha asada e quentinha chegava à mesa dos reis, vinho novo ou jeropiga, porque a digestão caprichosa para ela não havia leis. Foi um convívio de valentia que aos convivas pertenceu, com o rico cafezinho e bagaço que era seu. Diverti-me imenso a escrever este texto, mas queria deixar uma palavra de gratidão a todos que nele participaram e ajudaram, pela iniciativa do evento e pela cortesia de todos os convivas, esquecendo por umas horas, quem eram, de onde vieram, e o que faziam, porque uma boa comunidade não necessita de títulos nem virtudes. Grato pela compreensão, porque este não é propriamente o meu estilo de escrever AB

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