Professora D. Aurora e alguns alunos |
1ª parte
Nos anos 50/60, em Murçós como na maioria das Aldeias, do
Nordeste Transmontano, a escolaridade, para além de facultativa, os
encarregados de educação, quase sempre os pais, abdicavam facilmente da
aprendizagem dos filhos, julgando mais importante, eficaz ou necessário, para a
sobrevivência familiar, ajudar nas funções agrícolas, as quais lhe asseguravam,
o pão e o caldo diário. Aqui e ali, surgiam casos raros, nas famílias mais
abastadas, mandavam-nos estudar.
As escolas, antes de edificarem as que atualmente se
encontram abandonadas, ou servem projetos de pouca utilidade pública, alugadas
ou emprestadas pelas Câmaras, às juntas, associações etc., assinando um
protocolo, cariciavam de conforto, espaço, condições mínimas, para que os
alunos pudessem aprender sem restrições nem contrariedades, materiais e
físicas. Numa casa normal, com uma grande sala, no topo das escadas, estábulo
de animais por baixo, soalho em estado degradante, duas janelas no 2º andar, a
Sra. Professora D. Aurora, ensinava dezenas de alunos, da 1ª à 4ª classe, mais
concretamente os de 3ª e 4ª, cuja preparação para exame, requeria numerosos
esforços, das duas partes. Já depois dos horários normais, a D. Aurora, reunia,
sobretudo os da 4ª classe, nos baixos da sua casa, improvisados para o estudo
complementar de apoio, dos que iriam a ser examinados, não concebendo uma
possível reprovação. Hoje fala-se de alunos rebeldes, agressivos, que não
respeitam os professores, nem dentro nem fora das escolas… não era assim no
tempo da Sra. Professora D. Aurora. Os métodos repressivos considerados
bárbaros, arcaicos e outros adjetivos qualificativos, produziam a eficacidade
desejada, e, os encarregados de educação não interferiam a favor dos seus educandos.
Quem não se recorda da existência de uma régua que servia para dar palmatoadas
aos que falhavam quer na aprendizagem quer no comportamento cívico, e a vara de
marmeleiro que avermelhava as orelhas? Pessoalmente, apesar de não ser
favorável a tais métodos, estou imensamente grato aos meus professores primários,
ficando a jamais no esquecimento, um ou outro, que outrora me revoltou,
compensado com o benefício que deles usufruí.
A Sra. D. Aurora e seus alunos da 3ª classe adoravam a
leitura dos lindos textos e poemas existentes… e, quando chegavam à 4ª classe,
com ela aprenderam: os rios de Portugal, onde nasciam e desaguavam; as serras e
sua altitude, as linhas de caminho-de-ferro e cidades por onde passavam, os
oceanos, a Geografia. Os verbos e suas conjugações, adjetivos, substantivos,
caligrafia, ortografia, e síntese, a Gramática. As Ciências Naturais, era outra
das disciplinas que os alunos, não só aprendiam, como decoravam. O corpo humano
e as suas divisões, ossos da ponta dos dedos até à ponta do cabelo, plantas com
suas derivações, os diferentes seres vivos. Os Reinados e seus reis faziam
parte da História de Portugal, onde apareciam os descobridores, Etc. A tabuada
decorada de lés a lés, as contas, somar, subtrair multiplicar e dividir; os complexos
problemas; reduções, frações, percentagens, aritmética, trabalhos manuais,
desenho, enfim… isto é um pequeno recapitulativo da quantidade e qualidade de ensino
e aprendizagem.
Bem-haja Sra. Professora, pelas bases inculcadas, à
juventude desse tempo, para mais tarde, alguns deles, se tornarem homens da
Ciência, e outros usufruíram do que aprenderam para o transmitirem às novas
gerações. Que a sua alma descanse na paz dos anjos, e a minha homenagem
congratule orgulhosamente os filhos de Murçós, seus discípulos
Antiga casa da escola, nas duas janelas de cima |
A Professora e algumas alunas |
Aqui, baixos da casa da D. Aurora onde havia estudo de apoio |
Esta era a casa da D. Aurora enquanto professora em Murçós |
1 comentário:
Tonho
Bem sei que a D. Aurora não foi tua professora, por isso te fica ainda melhor a homenagem que lhe prestas pois, através dela, homenageias todos os professores primários que tanto de si deram aos filhos mais desfavorecidos do nosso País: os das aldeias do interior.
Beijos
Enviar um comentário