DE: Miguel Fernandes sobre as várias maneiras de recolha da azeitona em Murçós
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Finalmente a recolha da azeitona está chegando ao fim. O inverno rigoroso e ubertoso em chuva, vento e frio teimava em impedir os grupos organizados, das poucas pessoas mais jovens, que o destino ou a vontade ditou para ficar por cá, a sair de casa logo ao romper do dia… e a azeitona ia caindo, perante os olhares impotentes dos mais idosos, ferindo-lhe os corações ansiosos e tristes com o desperdício, após tantos esforços e sacrifícios, com o intuito de levar aos pratos dos familiares abastança alimentar, sabendo que a venda anda pelas horas da amargura… O chão acolhia alegremente os frutos balançados pelo vento, enquanto a lacrimosa chuva os lavava, abundantes, que a mãe oliveira tentava guardar ao abrigo dos seus ramos. As conversas nos agrupamentos, quase sempre nos cafés, convergiam para o sentimento comum de desolação, e a falta de poderes dos mais idosos, congregava-se nas lamentações com a falta de mão-de-obra nestas ocasiões mais que especiais. O grande alivio só se vai verificando nos rostos dos populares, quando voltam dos lagares com os recipientes cheios de um azeite fino, gostoso, e colorido, que faz a felicidade dos amantes de um bom cozido à Portuguesa, umas casulas transmontanas cozidas nos grandes potes de ferro, juntamente com perna, orelha, costela e chouriça de porco… um bom polvo cozido, e um bacalhau assado na brasa, à lareira natural e tradicional, porque hoje em dia, o modernismo, requer os recuperadores de calor, idênticos ao que se vê artificialmente, sem usufruir das numerosas vantagens, grelhados, fumados e sobretudo o aconchego aprazível, enquanto em tempos que mal se pode sair à rua, em detrimento das histórias que os nossos antepassados nos contavam durante as longas veladas, nos contentamos com a emissões televisivas,
baseadas na reality show, alimentadas, mas sobretudo pagas, pelo povo incentivado incessantemente a telefonar para ganhar somas, sabendo que só 1% tem essa possibilidade. A realidade de ontem e a ficção científica de hoje poderia considerar-se como um: “ apartheid” evolutivo dos tempos, onde os mais novos vêem com indiferença as belas recordações do passado, que os mais idosos tentam transmitir, com saudades ou nostalgia, e os mais novos procuram refugiar-se nas numerosas aberturas das novas tecnologias, nomeadamente da comunicação virtual, rápida engenhosa e eficaz. Não podemos censurar e muito menos julgar, as magnificas ferramentas dos tempos modernos, que nos possibilitam mais rapidez e eficácia, com usufruto à distância de milhares de km. Contudo, podemos comparar… e, pessoalmente chego a uma conclusão confusa, indiscernível. Como nasci nos anos 50, gosto de ler um bom livro sem preferências pelos autores… assistir a um bailarico à maneira antiga, onde efectivamos o nosso 1º “flirt” à luz de uma candeia ou lampião, num recinto terreiro, palheiro, ou casa sem qualquer conforto, ao som de um realejo concertina, e mais tarde gira discos. Aquele romantismo que nos era transmitido pelos romances pelos cantores de “charme” e até pela rádio que fazia as suas primeiras aparições na nossa naturalidade com: “simplesmente Maria… (Little House on the prairie foi outra série televisiva que marcou a minha infância, tal como os Bee Gees, os Beatles, Roberto Carlos, os Boney M e outros.
Como já me estou a distanciar do tema inicial que deu origem a este texto, gostava concluir com uma sensação de positividade, em relação à entreajuda dos cidadãos desta terra.
Numerosos foram
os que vivendo no Estrangeiro se empenharam em fazer os possíveis para voltar,
ainda que por poucos dias para ajudar os familiares nesta tarefa árdua pelas
condições climatéricas, e pelos esforços que requer o varejar, embora já mecânico,
mas com pesos entre os 13 e os 15 quilos e uma vibração desconfortável.
Não permitam que
se perca o que vos é legado pelos vossos pais, os quais adquiriram com grandes sacrifícios
e dedicação.
Por lá, no chão
ficaram algumas toneladas de azeitona, mas, como Deus foi generoso este ano com
a quantidade, fica a compensa e a recompensa.
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