terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Confissões


 Decidi e fui prostrar-me junto do confessionário… pesavam-me acusações injustificadas, baseadas em falsos argumentos sem fundamento, mas, que perante o povo, o qual condena sem julgar, ou julga omitindo a verdade; eu teria de servir de alvo, onde um batalhão de soldados mal fardados cumpre ordens hierárquicas e apontam armas prontas para disparar, caso o dito alvo não abdique dos seus intentos rebeldes, que possam denegrir uma imagem fictícia… a peça teatral entre os fracos e os poderosos….
Do outro lado estava um Padre experiente… também pecador, que costumada dizer, quando era apontado o dedo ao seu vizinho: - Cada um paga por si…
Na verdade, venho aqui, mais para desabafar com o Sr., por ser formado em teologia, e considerar ser a pessoa indicada, que eventualmente poderia dar resposta às minhas perguntas sem tomar o partido por A ou B. Mas não sei por onde devo começar…

 Habitualmente começa-se sempre pelo inicio…

Então vamos lá…quando era pequeno, fui recolhido por uma família, porque os meus pais eram carenciados e tinham numerosos filhos. Essa família era constituída pela mãe idosa, e dois filhos, um Padre e a irmã professora primária…
O meu interlocutor, adivinhava uma longa história, precaveu-se assentando-se numa cadeira confortável, colocou uma perna sobre a outra, levou a mão direita ao queixo, e assentou o cotovelo no joelho, olhou-me olhos nos olhos como quem quer dizer,: estou pronto para o que der e vier…
Era uma Santa família, sobretudo mãe e filha. O Sr. Padre decepcionou-me ao mais profundo grau, ao ponto de desistir da vontade que a Sra. Professora alimentava em fazer de mim um Sacerdote, considerando-me inteligente e com o dom, aparentemente voltado para o sacerdócio, após os princípios e valores adquiridos nas suas companhias durante seis anos.
-Então…
Para mim, que nessa altura raciocinava como um adolescente de doze anos, um sacerdote escolhido para representar Deus não podia falhar… devia nascer dotado de preceitos que jamais poderia trair… os ensinamentos divinos espirituais quando penetram um corpo, transcendem as tentações corporais, devendo o usuário estar preparado psicologicamente para as afrontar. Recusei por saber que jamais poderia ser um verdadeiro Sacerdote, e sentiria um grande peso na consciência abandonar, usando uma pessoa pura e bondosa… mentindo.
Abandonei esta casa de livre vontade, quando tinha dezasseis anos, para voar pelas minhas próprias asas, levando na bagagem: boa educação, doutrinado, fervente cristão praticante, a dor e a tristeza, como quem abandona a família, mas, também numerosas cenas, sobre as quais reflectia em silêncio, e, numa perplexidade desconcertante, condenava e perdoava, utilizando sempre circunstâncias atenuantes…
A honestidade, sinceridade, cidadania, humanismo e humildade, acompanharam-me ao longo do meu viver ao quotidiano, levando até ao supremo a gratidão incondicional pela ajuda a superar com dignidade os momentos mais sinuosos do meu viver.
Todos os meus desejos e projectos se concretizaram, e a felicidade invadiu o meu território como presente vindo dos céus… vivi, até esta data a vida a fundo, sem restrições nem contradições. Nunca tive ambições desmedidas, respeitando o ser e o ter de cada um sem invejas. Tentei sempre pôr em prática os dons que me foram concedidos, e, se possível ultrapassá-los para me provar a mim próprio que para a frente é o caminho, sem passar por cima de ninguém, os pés bem assentes no chão.
Hoje, com 62 anos sinto-me perdido numa podridão que me fere profundamente. A hipocrisia, tornou-se o prato do dia… os representantes da religião cristã caluniaram-me mentindo ao povo e omitindo as verdadeiras razões… e o povo saiu lesado. Perdeu uma obra Social de grande importância, deixando-se ludibriar… perdeu também a dignidade da Freguesia, cuja responsabilidade cabe exclusivamente a um homem em quem depositaram toda a confiança, deixando-os agora ao Deus dará, porque também ele que se julgava indestronável levou um pontapé no rabo… fui aconselhado a meter-me na minha vida, censurando os meus escritos por se tratar de assuntos “tabout”. Fui igualmente ameaçado com um processo judicial, por ter escrito nas redes sociais o relato do despejo ignóbil de um idoso da terra por uma instituição dita social, e aconselhado a ceder pela pessoa que pediu para ele entrar para lá, não respeitando o direito da listagem… ainda nas redes sociais, por pedir desculpa em nome de uma associação, a um Diácono pela quebra tradicional do canto dos Reis na Igreja, aconselharam-me a eliminar os comentários, alegando que não estava em causa a responsabilidade da associação, sendo nesta página manifestada a lamentação….enfim… se sou tão ruim como tentam fazer crer, porque não me apontam as minhas faltas com toda a clareza dando a cara, para eu poder remediar… acha que o mau da fita sou realmente eu?

Levantei o olhar, após este relato, e reparei que o Padre dormia profundamente, pelo que me levantei em silencio e deixei-o entregue aos anjinhos… afinal mesmo que não tivesse sido ouvido, saiu fora, aliviou.

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