A luz que nos seus olhos brilhou durante 91 anos, apagou-se
definitivamente. Os sinos afinados deram os “sinais”da sua partida…o Padre
Delfim Batouxas deixou-nos! Balbuciavam os lábios trémulos, daqueles que
tiveram a felicidade de o conhecer, como homem com H grande… como Pároco,
serviçal, desinteressado dos bens materiais, oferecendo antes de mais o que é imprescindível,
passando sempre para segundo plano, o supérfluo. Formado no Seminário de
Bragança, vindo da formosa Aldeia da Burga, o Padre Delfim dedicou-se de corpo
e alma, aos homens e a Deus – Dizia o Reverendíssimo Bispo de Bragança e
Miranda, no seu longo discurso de homenagem, ao mesmo tempo que citava também
as Paroquias por onde passou, referenciando a simplicidade e a coragem do
guerreiro pastoral, através dos múltiplos entraves ao longo de um percurso
exemplar de conduta teológica.
Tal como ele era na vida, assim foi a cerimónia do seu
funeral… simples, mas com dignidade, partilhada pelos presentes; uns baptizados
pelo Sr. Padre Delfim, outros casados, e até os que comungaram pela primeira
vez o corpo de Cristo das suas mãos…
De Murçós éramos 25 pessoas. Uma coroa de flores simbolizava
o cortejo fúnebre, vindo da terra e das gentes que ele sempre considerou, aos
quais dedicou tantos anos da sua vida.
A pequena Igreja encheu-se de fieis que comungavam do mesmo
sentimento de tristeza, acompanhada de agradecimentos sinceros, porque os
humildes não sabem fingir… e as recordações surgiam naturalmente nos
pensamentos dos que o rodearam, que o conheceram, congratulando-o, com o mérito
de um pastor desenvolto, resistente ao frio, à chuva, neve ou vento, e também
ao sol ardente de verão, nos percursos que inicialmente fez a pés, depois mais
tarde numa moto, e ultimamente no carro.
De referenciar também a presença dos moradores de Soutelo
Mourisco, onde ele viveu, e com os quais teve diversas e variadas conversas,
durante o pouco tempo que lhe restava após as visitas Dominicais, ou ao cair da
noite, do alto da sua pequena varanda, ao voltarem da faina do campo exaustos
mas sempre com um sorriso cordial para cumprimentá-lo.
Estiveram igualmente presentes, pessoas de Espadanedo,
Vilar-Douro, e meia dúzia de seminaristas, duas freiras, e os padres que o
sucederam na Paróquia deixada a partir do ano 2000.
As duas montanhas altas que ladeiam a linda Aldeia da Burga,
miravam lá do alto observando todos os movimentos daqueles que vieram apenas
para cumprir o protocolo, marcar presença e repartir julgando-se com o dever
cumprido? A chuva caía torrencialmente como para marcar pela última vez, a
presença de outros tempos, de Invernos terríveis que o Padre Delfim atravessou
ao longo do seu percurso Pastoral.
Merecia mais… - dei comigo a pensar em alta voz! E, subitamente
lembrei-me da ingratidão humana…
Adeus Sr. Padre Batouxas… e que a sua alma descanse em paz.
Obrigado por me ter casado.
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