OLÁ PRIMO
O reencontro surgiu inesperadamente, entre os dois primos, com diferenças consideráveis de idade, mas as belas recordações da nossa juventude, por terras de Vale de Nogueira, Chãos ou Rebordainhos, reavivaram as nossas mentes um tanto quanto adormecidas pelo destino o qual um dia nos reuniu e noutro nos separou, por alguns anos, muitos…ambos constituímos uma família, com esposa e filhos, e hoje tem 24 anos… como o tempo passou apressadamente! Ainda ontem, o meu primo Arnaldo, quando me encontrava, abraçava-me alegremente dizendo: olha o meu primo barbas!
Era assim que me chamavam amigavelmente os conhecidos e amigos… por ter um dia resolvido deixá-las crescer, uso da época, e talvez um “cibinho” de vaidade, mesmo consciente do trabalho acrescido para as manter sempre apresentáveis. Mas, as barbas também acusaram a passagem do tempo, e começaram a ficar grisalhas; até que julguei conveniente cortá-las, surgindo um novo look…
Com as novas tecnologias e as numerosas redes sociais,
tornou-se mais fácil, encontrar pessoas perdidas no tempo e no lugar, mas
jamais esquecidas… aqueles laços fortes que nos uniram pela amizade, amor,
carinho, ou simplesmente consideração, surgem novamente mais coesos já com a
realização de projectos ambiciosos, uns mais outros menos, concretizados, o que
nos permite recuar no tempo, com mais conforto e disponibilidade, revivendo o
nosso outrora, fácil ou difícil, pouca importância tem…aquela frontalidade
descomplexada que nos unia num canto de um bailarico, nas festas e romarias, no
café para uma partida matraquilhos, snooker, ou cartas, sempre com boa
disposição, radiosos com o que nos era proporcionado.
Os meus tios de Vale de Nogueira foram os que menos frequentei enquanto adolescente… contudo, mais tarde, sentia na tia “pereirinha” como eu lhe chamava, um carinho especial… sempre que por lá passava, convidava-me a ir comer qualquer coisa a casa… e aqueles olhos azuis eliminavam a minha alma… as suas ternas palavras – anda meu filho – enchiam-me o coração de gratidão admirativa… com meus primos, sendo mais velho, era talvez um ponto de referencia sem protagonismo especial… que bom ter noticias deles todos, e saber que, apesar da crueldade com que foi brindado o Álvaro, todos os demais tem uma linda família, bem formada, dinâmica e lutadora, herança dos pais.
A minha prioridade na vida real, foi sempre familiar com a
árvore genealógica, constituída de todos os elementos através da gerações. Tive
a honra de conhecer virtualmente o Carlos, um Lisboeta defensor das boas
maneiras, princípios e valores cívicos, que me impressionou positivamente…
Quanto ao Álvaro, sinto profundamente a dor que o tormenta desde que seu filho
de 18 anos faleceu naquele estúpido acidente, provocado pela inconsciente
conduta de um homem que tinha ingerido uma quantidade excessiva de álcool… sei
que nada e ninguém poderá consolá-lo, muito menos trazer-lhe o filho de vota,
pelo que me limito a partilhar, como pai, a dor que pesará para sempre nos
corações do casal.
Quanto à longa conversa que tivemos no “pipo” restaurante em
Vale de Nogueira, enquanto almoçávamos, posso afirmar-te Arnaldo, que foi para
mim um presente inestimável… quem valoriza os seres humanos não são os valores
materiais, mas sim a humildade que os caracteriza, e faz deles homens com H
grande.
Guarda, enquanto te for possível, esse ar jovial, essa
motivação familiar, e sobretudo a franqueza espontânea, que se faz cada vez
mais rara hoje em dia.
È com imensa gratidão que te dedico este rascunho expresso
com os sentimentos verdadeiros, enquanto saboreio, num canto da minha modesta
lareira, o calor das imagens gravadas na minha memória de servidor sempre
presente para todos aqueles que solicitarem a minha humilde presença, para
recordar tempos passados ou chorar azares da vida madrasta.
Até sempre.
6 comentários:
Verdade, verdadinha António!
Ficava bem mais giro com as barbas, ainda que fossem grisalhas! Eu gostava!..
Um beijo
Também eu... amiga Serrana! Gostava, mas... a fisionomia necessita acertos e adaptação aos tempos e lugar... assim sendo, imagine uma senhora de 63 anos vestida de "mini-saia"...gostava tanto vê-las, jovens, airosas, belas! " E tudo o vento levou"...
O Arnaldo também podia ter escolhido uma onde estivesse mais pimpão... é, porque a francesa que nos fotografou com o iphone dele não podia fazer milages! Humor.
Bem-haja pela visita. Retribuo o beijo se me permite.
António, quem é pimpão por natureza não precisa de adicionais! Que acerto é que a sua fisionomia precisava?! Há tantas barbas grisalhas! Tão charmosas e tão intelectuais!
E então, porque se tem 63 anos, deve-se andar tapada do pescoço até aos pés?
Nem tudo, o vento levou António! O espirito de juventude, esse, continua! Está dentro de mim! Não mo conseguem tirar ainda que tenha 63 anos.
Beijos
Agora fez-me corar com tamanho elogio! Sim, sou obrigado a concordar que haja "Barbixas" grisalhas charmosas em corpos intelectuais...que o espírito pode manter-se jovem...e que não devamos ocultar aquilo de que tanto nos orgulhamos... porém a vaidade finge apenas que conhece a nossa existência,e, com grande cortesia, veste-nos e calça-nos de novo, e mesmo sabendo que a"vestimenta não faz o monge" as aparências nem sempre são alusivas.
Resta-nos a esperança de entrar em jogo no prolongamento, e que o árbitro perca a noção do tempo...
falo por mim, querida Serrana...sentindo-me privilegiado,em relação a milhares de seres humanos, pelo que estou imensamente grato, mas, lúcido.
Não tome por mal este "descarrilamento", sou eu, o barbas cortadas.
Obrigado
Boa tarde António,
Boa tarde "priminho das BARBAS"...
Estou atento, estou muito atento às tuas mensagens, que qual delas mais carregadas de força, sentimento e preocupação forte com os que te rodeiam...
Pessoalmente fiquei muito orgulhoso no convívio que estabeleceram um dia destes nesse cantinho a cheirar forte a PORTUGAL...pena tive não poder estar fisicamente presente, mas estava lá, tu sentiste eu sei, e éramos três, eu a minha amada esposa e o meu filhinho de ouro, o NANDO...
Fiquei muito orgulhoso ainda na tua mensagem que para além de toda ela, me deixou de rastos quando dedicas-te umas valorosas e infindáveis linhas a mim (nós) e à memória do meu filhinho, o teu priminho, que tenho a certeza te adoraria conhecer e tu ficarias derrubado por terra pela riqueza que tínhamos entre nós... Pois é, já me estou a emocionar e é por esta razão, apesar da enorme vontade, que ainda não te tinha respondido... Por isso vou parar já, quero fazê-lo com calma e tentando dedicar-te uma mensagem para te agradecer o enorme orgulho de ter amado o Tio Arnaldo, o teu paizinho e por conseguinte também a vossa inexcedível amizade de priminhos de referência...
Então até um dia destes, no entanto continua a escrever que fantástico sentir o deambular das palavras na tua mente e que riqueza e verdade elas transportam...
Um grande abraço, beijinhos para as 3 meninas...
Álvaro Morais
Olá Álvaro! Nunca é tarde para expressarmos os sentimentos que guardamos "encafuados" na arca de Noé, após o dilúvio que marcou a nossa existência... podia dedicar ao Fernando, mesmo sem ter o privilégio de o conhecer,o que um jovem da sua idade mais deseja...e desejava tanto, poder transformar o vosso pesadelo num sonho lindo, onde o amor e a felicidade se encontram numa harmoniosa comunhão....infelizmente, sinto-me penosamente impotente... também se me "esgueiram" as frases carentes pela brecha da corrente gelada e cínica, onde prevalece a injustiça divina e o estado maquiavélico do ser humano inconsciente.
O nosso convívio embora rápido, veio trazer um balão de oxigénio que fermentou e deu frutos, como em tempos idos. A tua presença teria sido a cereja no cimo do bolo, mas, tenho a certeza que um dia destes vamos ter essa oportunidade.
Desculpa por não falar muito na tua esposa, a consideração e estima é óbvia... nossa família será sempre o melhor dom de Deus. Abraço saudoso para ambos, e bem-hajas pelas visitas.
Enviar um comentário