A vida não tem planeamentos. Ela é como o vento
que muda o rumo da maré, carrega o papagaio pra longe de nós e faz os ponteiros
do relógio alterarem os nossos planeamentos ao virar do tempo. A vida não se
define, pois está sempre em eterna construção. É o inacabado, porém sempre
completo. O incorreto, mas que acerta em cheio nos erros cometidos. A vida não
tem explicação. São as chegadas que não trazem nada e as partidas que deixam
tudo pelos cantos. É o que se acumula na alma, mas não pesa. Porque a vida é
sempre leve se a soubermos levar com paz. Morre quem não sabe aproveita-la, é eterno quem cultiva o amor. A
vida não tem lógica. É o ancorar com um balão, conhecer as nuvens no fundo do
mar. Porque viver é saber que a lei da gravidade ésomente o que inventaram para a gente não voar.
Viver é planar sem planos, rimar sem
rumos e amar sem amarguras. O curto espaço entre
nascimento e óbito não é vida, estes são somente os anos. A verdadeira vida
estende-se no curto espaço de entrelaçar as mãos, abraçar uma alma ou beijar
calorosamente a quem se gosta. No curto espaço…
eu afastei-me. Afastei-me daqui, afastei-me das
pessoas, afastei-me da vida, mas acho que era só para pensar. Pensar um pouco
nos erros que ando cometendo, nas vontades que ando tendo, nos medos que me
afligem cada vez mais. Pensar nesta súbita e inesperada mudança, e se isso está
sendo bom para mim
Acho que às vezes precisamos disso, de uma breve
pausa, para rever os nossos conceitos, para voltar a ser o que éramos, ou para
simplesmente seguirmos em frente, mudarmos, tomarmos novos ares, seguirmos
novos rumos. Será que me vou redimir com este afastamento? Que a vida
vai mudar, e as feridas vão sarar?
Talvez os ponteiros do relógio retomem a rota no
bom sentido… e as horas passem mais rápidas nas tormentas dos dias tempestuosos.
Podem voltar os segredos e tomarem o rumo predestinado, entrarem naquela gaveta
onde
se guardam os corações
palpitantes, as lindas frases que nos fazem estremecer, o perfume incomparável
que reconhecemos entre tantos outros… as nossas mãos não voltarão a
entrelaçar-se, e o tempo tornar-se-á tão longo que o desespero que me tenta
pressionante, pode vencer a batalha…
2 comentários:
Tens razão, Tonho: a vida é um improviso. Às vezes, aquilo que fazemos ou dizemos calha bem com aquilo que os outros fazem e dizem. Outras vezes não. Paciência, até porque, como dizia o nosso poeta, urgente é o amor:
"É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer."
(Eugénio de Andrade)
Beijos
Mais uma vez obrigado pela visita, Fátima. Gostei do poema.
desculpa por não me alongar mais no meu comentário mas, não ando bem...
Beijos
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