quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Dia de sorte 56 AB Durante aqueles amargurosos dois meses passados naquela quinta que cativou o seu amor e paixão, dentro de Francisco nasceu um vazio medonho que o martirizava impotente e sem recursos morais que alimentaram, noutros tempos, o seu espirito, o corpo e a alma, que um sopro de vento levou para longe deixando-o órfão de carinhos e afetos, de palestras diversificadas, assentados debaixo de uma árvore, saboreando ao mesmo tempo a frescura do calor humano, rindo ou comendo a merenda com os criados, foi o paraíso terrestre que nunca mais teria o mesmo significado. Também a avó falecera passado um mês, o seu coração não aguentou a pressão que lhe corria dos olhos, e o alento fraquejava, em noites de solidão, naquela cama fria sentia-se abandonada pelo companheiro carinhoso com o qual percorreu caminhos ladeados de sombras incógnitas, mão na mão, concordando em tudo, sempre com o sorriso e o beijo de quem se ama apaixonadamente, e na igreja se prometeram fidelidade, confiança nas adversidades, e amor eterno. - Não é justo – gritava francisco junto da cascata onde com o avô, tivera os conselhos de um pai, reivindicando ponderação e compreensão, perdoando à filha o que ele jamais perdoaria à mãe. Legou-lhe aquele lugar sagrado, sabendo que era ali o seu verdadeiro reino, porque fugir é cobardia e já não resolve o que o destino ditou…fingir durante uma vida não é ter coragem – dizia-lhe ele – podes ser o homem mais poderoso do mundo ou o cordeiro mais humilde do rebanho, um dia terás de escolher. Montou o cavalo preferido cheio de ódio e raiva que o animal sentiu quando as esporas lhe sangravam o ventre. Levantou as patas da frente obrigado pelo sofrimento, descomedido, galgou paredes, saltou lagos, deu volta a colinas agrestes banhado em suor num bufar de exaustão, enquanto o cavaleiro não via nem ouvia sentia apenas uma dor que lhe apertava o coração sem poder raciocinar, só se apercebeu da crueldade ao chegar à estrebaria quando saltou para o chão e reparou no estado do alazão. Agarrou-se ao seu pescoço e vezes sem fim pediu perdão como se fosse um ser humano. Chamou um criado a quem ordenou de o recolher o mais rápido possível, o limpasse com panos quentes, e lhe servisse uma boa ração de aveia, e só depois lhe desse de beber água” morna” Entrou em casa tristonho e arrependido, já com roupa normal vestido, dirigiu-se à cozinha para beber também um copo de água. Assentado numa cadeira o filho aguardava a sua chegada, como previamente combinado. Levantou-se e aquele olhar meigo foi ao encontro do do pai que disfarçou dizendo: Esperavas-me? - Não foi o que combinámos pelo telefone? - Ah! Sim foi. Já falamos enquanto almoçamos. Durante ao almoço, assentados lado a lado, nenhum dos dois conseguia balbuciar palavra. O filho, humildemente, com a timidez que o caraterizava, pôs a mão no ombro do pai, sendo imediatamente repelido com violência e desagrado. Uma lágrima caiu-lhe silenciosamente pela face vindo desfazer-se no canto da boca trémula, retirando-lhe o apetite. Francisco apercebeu-se emocionando-se, mas apenas disse. - Amanhã seguimos viagem para Nova Yorque arranja as tuas malas que eu mando alguém buscar-te. Certo? Isto é se não mudaste de ideias e que ainda queres ir viver comigo? - Sim quero muito…

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