segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

IN DESTINOS

Destinos e destinados 104 por António Braz A noite caía por entre a vegetação e as folhas voavam com o soprar de um vento Outonal nos jardins que lentamente se despiam do encanto admirado e acariciados por olhares melancólicos em dias longos e quentes, onde a magia da frescura que partilhada com os que por baixo saboreavam em merendas conviviais, fugindo do stress das grandes aglomerações onde havia de tudo menos a serenidade que alimenta desesperos, cansaços e rotinas. Carlos continuava a viver no seu vistoso apartamento como um perdulário longe de tudo e de todos, respondendo à criada apenas sim e não. A senhora que vivia no seio de uma família normal, sentia apertos de coração e muitas vezes enquanto arrumava o quarto sentiu as lágrimas descer silenciosas pelas faces que o avental acolhia, rezando baixinho onde pedia clemencia para um ser humano que cortara os laços todos que o ligavam à vida. Não era gratidão que sentia pela pessoa que lhe salvou a vida quando aquele carro o podia ter livrado de tanto sofrimento, desde que perdeu a mulher e sempre se responsabilizou pela fatalidade. Assentado à mesa, Carlos aguardava para jantar sem apetite, quando a campainha tocou. Pelo seu cérebro passaram ondas geladas, até que a senhora voltou e numa amargura infinita apenas conseguiu balbuciar: - o seu pai…. O seu pai faleceu Carlos fechou os dois punhos para suster o queixo, tremendo dos pés à cabeça. Os seus lhos já não podiam chorar, mas o coração batia a um ritmo incontrolável. Sentia agora os remorsos da cobardia, da insensatez, da dor que lhe lembrava um passado cheio de amor carinho, sempre disposto a defendê-lo, quando por toda a gente era desprezado, humilhado e até terrorizado por um viver à margem das leis que regem, julgam e condenam comportamentos. Permaneceu nesta posição durante muito tempo até que a criada voltou a perguntar: -Que quer que eu faça? Por favor não me deixe pensar o que nunca desejaria que fizesse… - Chama um táxi enquanto eu vou ao meu quarto vestir-me. Voltou vestido com um fato azul escuro, camisa branca e gravata preta. Tinha passado gel pelo cabelo e penteado para trás. Os sapatos refinavam a elegância de um homem que queria honrar aquele que lhe deu tudo, caminhou ao seu lado, de braço dado, minimizando a crueldade do destino, pagando a sua subsistência, provar-lhe que o amava embora tardiamente. Entrou na herdade onde circundavam numerosos automóveis estacionados nos quais a colisão da bengala guia, o guiavam por caminhos mais acanhados que aqueles que o direcionavam para a sua casa, onde teve todo o conforto, alegria e amor. Subia as grandes escadas em granito quando o olfato de alguém bem conhecido lhe invadiu as narinas e logo uns braços de mulher o abraçavam ternamente, como n’outros tempos, e as lagrimas molhavam-lhe o rosto frio coberto pelo desalento embebido em sentimentos de uma atrocidade desmedida. Não foi pronunciada uma única palavra, ambos sabiam que o destino tinha levado aquele homem bondoso, honesto e carinhoso que jamais traria de volta, Sofriam em silencio para não manchar as suas virtudes.

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