sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Dia de sorte58

Dia de sorte 58 AB Durante aquela medonha noite Francisco não conseguiu fechar olho. À sua mente surgiam incessantemente lembranças de um passado recente que o torturava, sem o culpar, mas que se tinham agarrado ao seu coração onde permaneciam presas para sempre. Às 8h da manhã levantou-se tomou um duche vestiu a melhor roupa que tinha, um fato azul céu, uma camisa de alvura e uma gravata preta, meias e sapatos a condizer, tentou disfarçar aquela escuridão na parte inferior dos olhos, e desceu hesitante contando as escadas, voltando-se em cada uma à procura do que sabia jamais encontrar. Entrou na cozinha onde o esperava o filho assentado na grande mesa recheada de alimentos que a cozinheira fez questão de oferecer ao seu menino antes de partir para terras longínquas. Deu os bons dias educadamente, e apressou-se a dizer que não comia, e que ia sair não sabendo o tempo que demoraria. – Não se esqueça que tem avião às… -Não me esqueço… quanto ao teu futuro e do restante pessoal, não se preocupem, já tratei de tudo, esta continuará a ser a vossa casa enquanto o desejarem. Entreguei a gerência da quinta a pessoas honestas que tenho a certeza não me irão dececionar. Ia voltar-se quando notou que alguém lhe segurava o casaco. _ Também posso ir? Disse Fred com ternas e meigas palavras, tal um menino perdido num emaranhado de factos onde não existem preceitos nem razões. Francisco voltou-se e reparou que dos olhos da cozinheira corriam lágrimas a fio implorando a sua clemencia. Não teve coragem para repreensões nem para perguntar se o rapaz sabia onde ia. Vamos. Passaram por uma florista onde compraram doze rosas pretas com apenas suporte para os dois poderem transportar. À entrada do cemitério, francisco perguntou finalmente ao filho como sabia o seu destino, ao qual este respondeu: não podíamos embarcar sem dizer adeus aos avós! Junto da campa um silencio intenso vigorou durante muito tempo, já não havia lágrimas para derramar nem palavras para alentar, apenas dois corações cheios de dor e as imagens daqueles que permaneceriam sempre vivos onde quer que estivessem. Embarcaram ao meio dia, e durante a longa viagem só na hora da refeição pai e filho trocaram as palavras necessárias. Era a primeira vez que Fred viajava de avião, mas dadas as circunstâncias já nada o impressionava. Seguia um homem como um cão segue o seu dono, pronto para enfrentar as adversidades da vida, conhecedor dos antecedentes. Chegaram por volta da meia noite, esperavam-nos no aeroporto a chofer e o mestre cozinheiro. As apresentações foram breves, mas uma surpresa esperava Francisco dentro de um carro de luxo à entrada da sua herdade. Eram os Mailer, pai mãe e filha. Conseguiram o endereço através da funerária portuguesa, e fizeram questão de estar presentes à chegada de Francisco, para reconfortá-lo e apresentar as condolências pessoalmente. Foram convidados para entrar e permanecer a noite na herdade, mas recusaram acrescentando que tinham o hotel pago e no dia seguinte, voltariam a falar. Fred foi instalado num lindo quarto espaçoso, e elegante e com tudo que necessitava para ingressar na sua nova escola particular de reputação irrefutável, incluindo computador, net impressora etc. No dia seguinte receberam para almoçar aqueles que lhe abriram as portas e o ajudaram quando chegou aos USA. Durante a refeição falou-se apenas da desgraça familiar, mas Francisco não se sentia à vontade junto daquela mulher que tentou violá-lo, e temeroso que tal facto chegasse aos ouvidos do marido. Foi durante a sobremesa que a bomba explodiu. Não tens que te sentir humilhado Francisco. Sei de tudo, a minha esposa contou-me assim como à nossa filha. Ela, a única culpada, tem um temperamento vergonhoso, porém já a perdoei e a nossa família continua unida como sempre

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