foto retirada da net |
HERANÇAS II
com onze anos de atraso, e uma coima.
Também o seu nome sofreu modificação, porque o que lhe foi atribuído no batismo
não foi aceite…
Saía pela 1ª vez da terra, e, quando na
Estação de caminhos-de-ferro, pediu um bilhete par viajar no comboio a vapor,
teve a sensação de abandonar para sempre aquelas terras de pobreza e sacrifícios.
Na Cidade durante 8 dias, numa pensão de quatro coroas, extasiava-se com as
ruas, as montras, os numerosos passantes, tantas regalias que não existiam na
pacata Aldeia onde vivia. O exame correu muito bem, e o tempo da felicidade
estava no fim. De regresso a casa, tendo sido aprovado com outro rapaz da sua
idade, foram visitar a professora, que os felicitou com um beijo…
Os três meses de férias de verão
passaram tão rápidos, e o “puto” que alimentou a esperança de que um bom
coração humano o abordasse e lhe propusesse de o mandar estudar para a civilização,
sofreu uma desilusão devastadora… não bastava ser inteligente, eram necessários
meios financeiros, mas, ele tinha nascido um pobretanas e as pessoas que o
rodeavam avarentos sem coração… refugiava-se nos cantos mais desertos da Aldeia
para derramar lágrimas dolorosas ao abrigo dos olhares curiosos, sem pretensão
alguma, de dó nem piedade, reprimindo a fatalidade predestinada que continuava
a sua perseguição.
Resignado e temeroso de ser desgraçado
toda a sua vida, passavam-lhe pela cabeça de jovem adolescente ideias
baralhadas, umas sem senso outras sem sentido, mas, continuava esperançado de
que um milagre se operasse, um anjo o transportasse para longe, e desse
resposta a tantos pontos de interrogação que o martirizavam.
Meses depois, enquanto ajudava à missa,
um raio de luz, vindo não se sabe de onde, penetrou naquela Igreja e iluminou o
futuro do “puto”.
4 comentários:
Tonho
Há infâncias muito sofridas - como esta que nos contas hoje. E é muito bom que o faças, dessa tua forma tão generosa e agradável de contar.
Beijos
Fátima: embora as pessoas gostem mais ler contos de fadas, a realidade também merece o seu cantinho de leitura. Obrigado pelas palavras elogiosas que caraterizam a pessoa generosa e condescendente que sempre foste... beijos
António, boa noite!
Conheço algumas histórias como esta, antigamente os tempos eram difíceis e só os mais privilegiados tinham acesso ao ensino superior. Hoje, vivem-se tempos que se começam a assemelhar aos de antigamente. Creio que caminhamos a passos largos para que o ensino se torne outra vez num luxo a que só alguns terão direito.
Beijinho,
Ana Martins
Olá Ana! Infelizmente é uma realidade futura que doi por dentro e por fora... esperançados de que tal não veha acontecer, pois as novas gerações nasceram e cresceram acostumadas a este ritmo de vida... seria catastrófico recuar na evolução dos tempos... obrigado pela visita. Beijos
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