segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Quase poema...









FERNANDO CALADO


 quase poema… ou por causa do pôr-do-sol
Disse-te tantas vezes… quando puderes… vem assistir ao pôr-do-sol da minha varanda. Tu dizias que sim… mas era com se já não estivesses aqui, como se estivesses já de partida sem nunca, verdadeiramente, teres chegado.
Às vezes ainda perguntavas:
- Quando tiver saudades posso vir à tua varanda ver o pôr-do-sol?! E ficavas mais triste!
Eu dizia que sim, com um sorriso ausente, pois já adivinhava que a tua presença era tão fugaz como o pôr-do-sol e estavas permanentemente de partida como se uma longa ausência já se adivinhasse nas tuas mãos em forma de adeus…
…e sorrias… lábios vermelhos… sabor a cerejas maduras.
Depois também eu fechei a porta e esqueci o pôr-do-sol e as longas tardes de Verão… pois aprendi a ver o sol no seu poente à beira da alma, lá para os lados de Bragança.
…envelheço cercado de livros… remexendo memórias… chegadas e partidas! Longas ausências!
Pensei eu.
Mas, como para amaciar o tempo, abri a janela e por milagre o sol escondia-se perto da Senhora da Serra… num céu estranhamente riscado… já sem forças para chegar a Bragança!
…felizmente o sol é como eu chega onde pode chegar… sem pressas… sem mágoas… sem um queixumes, nem ressentimentos!
… não se devem dizer mentiras nem queixinhas!... aprendi com a minha neta Lara… só se deve dizer: - Bom dia Lara!
… fechei a janela… um bando de pardais regressava a casa… e lembrei-me… de ti!











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