sábado, 18 de outubro de 2014

Um adeus

texto e foto da autoria de Fernando Calado
 Adeus

Hoje fui-me despedir da ponte de Remondes, como quem se despede de um amigo…das águas fugidias do Sabor… dos remansos e da viagem sem pressa para os lados de Mogadouro.
A velha ponte vai ficar submersa na Barragem que irá domesticar o Sabor. Um longo funeral se segue, de oliveiras, amendoeiras, vinhas… do buxo, das fragas altaneiras… perdemos as memórias…e ficará um lençol azul… sem passado e não sabemos se com futuro.
Um pássaro azul sobrevoou o rio, num voo picado como quem sabe que em breve vai perder o chão… ficando somente a memória do azul e do voo sem retorno.
A ponte trouxe-a nos olhos… e no coração guardo a beleza dos cinco arcos de volta redonda… o querer dos Távoras que em 1678 uniram as margens do rio mais selvagem de Portugal… e assim quatrocentos anos de História… de paixões… de fazer caminho… de passar para o outro lado… serão somente um longo cemitério de águas mansas… onde uma nova ponte de betão se impõe… sem alma… sem memórias… na pressa da viagem.
Despedi-me da ponte… despedi-me da longa viagem do meu pai a cavalo do macho para a feira dos Gorazes… despedi-me das romãs vermelhas… despedi-me das oliveiras… dos remansos e dos peixes habitantes das correntes… despedi-me e deixei as lágrimas no Sabor!... despedi-me!
… a tarde caía… as asas azuis do guarda rios perderam-se no horizonte!
- Adeus!
Ponte de Remondes

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