sábado, 3 de setembro de 2022

O burro

O burro do Malino por AB Comprou-o na feira d Cãos a um dos ciganos laregos, n’um dia de feira, para emparelhar com o russo da Portela, porque um dá sempre menos despesa que dois, e as boas propriedades agrícolas eram dos donos, contentando-se os compadres lavrar por volta da fraga grande da ladeira e do lado de lá da ribeira onde os pobres animais mal se seguravam em pé e o centeio nascia por milagre, franzino e a espiga só dava o que tinha que não era grande coisa. Um ou outro valido também incluíam as propriedades que o estado atribuía aos que retirassem o monte com a enxadão, carquejas, e silvas num solo argiloso que não cobiçava aqueles que apresentavam nas eiras “medas” de mil ou duas mil pousadas. Durante o trajeto que separava a Aldeia da feira, de rédeas na mão, e uma cabeçada novinha (dizia o larego) quando se efetuou o pagamento em notas de vinte escudos, exigência do vendedor, que segundo o seu dizer já tinha visto pagamentos com notas de 100 escudos falsas, o Malino apressava o passo, mas o burro puxava para trás, parecendo uma dessas danças: ó pra trás, ó pra frente. Tentou montar sem albarda que não estava incluída no preço, mas num abrir e fechar de olhos, o burro levantou as patas de trás e o montador “emboligou” a camisa lavadinha e passada a ferro pele esposa na lama do caminho. – Vais pagá-las! E dizendo isto torceu ligeiramente o pescoço para a capela das Santas Agracias como a pedir que o desculpasse, por uma vez? Finalmente quando chegou ao destino com outras peripécias à mistura, foi imediatamente chamar o dono do burro velho e russo para lhe mostrar a compra, estava roendo uma palha cheirosa quando os dois entraram na estrebaria. -Bela compra, ã disse o malino com um sorriso nos lábios. – Sabe lavrar? -Perguntou o outro -Claro! Achas que eu comprava um burro manhoso por 5 notas de vinte? - E deixa-se montar? -Deixar que remédio vai ter… eu trato-lhe da saúde. - Não me digas que… - Mesmo em frente da capelinha! Que vergonha! - Pois caro sócio, ati chamam-te malino e ele como se chama? - Não sei, mas confia em mim vou-lhe arranjar um nome. Devias tirar-lhe a cabeçada e dar uma olhadela à boca para te certificares que ainda tem bons dente. - Achas? Claro, não é assim que se vê a idade dos burros? Temeroso, receoso o malino nunca dava parte de fraco. Dirigiu-se para o animal e quando passava perto, um couce desferido por surpresa apanhou-o ligeiramente num membro superior atirando-o para uma palha suja e molhada de urina. Furioso com tão grande humilhação, pegou num pau que estava à mão e desatou a bater no burro que se defendia com as patas. Tirou-lhe a cabeçada e o animal quando se sentiu liberto, veio mostrar os dentes ao dono mordendo-o num ombro que começou a sangrar continuamente enquanto seguiram os dois homens para a casa mais próxima para fazer curativo com o que existia. Maldito cigano murmurava o malino… disse-me que era mansinho e que fazia tudo, e os outros assinavam. Quando o vir não sei o qua lhe faço

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