quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O livro que jamais escreverei por AB São folhas brancas como a neve, que um vento veloz despedaçou, rascunhos de noites à vela procurando na imaginação fugitiva, o enfeite da credibilidade, ou o molde transformador de sonhos e desejos, capaz de capturar o leitor e mantê-lo ligado por laços invisíveis á história que o narrador tentou idolatrar com apego e mestria, informando-se, pedindo pareceres, manipular palavras transformá-las em romances poéticos, sejam eles autobiográficos ou de ficção científica. Este livro acompanhar-me-á quando o coração deixar de bater, os olhos se fecharem pele última vez e o corpo gelar. Comigo levarei o esvaiu de um viver intenso onde reinou a alegria, a esperança que sempre me acompanhou, o amor e a felicidade, o carinho que sempre dediquei aos mais vulneráveis, idosos e crianças, conquistas e desilusões sem nunca abdicar dos valores e princípios, tentando erguer-me quando tropeçava e caía, ou na ajuda dos que careciam dela. Levarei comigo folhas soltas, escritas e rasgadas, como as nuvens pelos aviões, porque não se pode dizer tudo sem que as consequências interfiram ferindo suscetibilidades, como rasto de víboras, ou as pegadas de um menino deixadas na neve. Um livrinho pode ser escrito por toda a gente. Um livro é diferente. Para atingir o título de obra são necessários anos e um trabalho árduo juntamente com imaginação fértil, onde as palavras nascem na ponta da caneta para serem transformadas significativamente em pérolas raras. A consideração, respeito e fanatismo só se atingem após imensos exames e provas sem fim. Se é verdade que para ser grande escritor é necessário escrever, editar e publicar, também é verdade que remar contra a maré é uma perca de tempo. Alguns ficam pelo caminho por falta de auxílio. As editoras mais reputadas selecionam, os autores já conhecidos, aqueles que vendem. As que pedem aos escritores para arranjar cinquenta ou sessenta compradores, que paguem adiantado, são aquelas que não confiam no que vão imprimir, e são os leitores a pagar a desconfiança. Existe ainda outro sistema que é de perguntar o Nº de exemplares, com ou sem ilustração que deseja editar, o Nº de páginas redigidas e corrigidas (às vezes mal) com cortes dos supervisores e a aprovação do escritor em troca de um pagamento, já com direitos de autor, com entrada de três quartos e o resto no final. Não tem livrarias próprias pelo que se limitam a colocar um ou dois exemplares no site onde podem fazer encomendas, quebrando 1,50 como comissão. Dizem que fazem a publicidade e que propõem às livrarias o que é falso No meu livro levarei a falsidade encarnada no ser humano, a corrupção que jamais será libertada, o adultério em religiões desacreditadas, a hipocrisia surda e muda, a avareza que é o que mais me pena. A PALAVRA É DE PRATA, O SILENCIO É DE OURO

Sem comentários: