terça-feira, 15 de novembro de 2022

https://cspslmurcos.blogspot.com/2022/10/traicao.html Traição 503 O viajante errante, Continuação João, gastara o dinheiro da venda que o irmão lhe tinha depositado numa conta em seu nome aconselhando-o a terminar o curso, reprimindo-o da péssima vida que o estava afundando cada vez mais, dependente de drogas e álcool, sujo por dentro e por fora, dormindo sobre um cartão de papelão à entrado do metro ou abrigando-se em lugares repulsivos, mendigando sobretudo expressões asquerosa onde surgia sempre – vai trabalhar malandro… O seu fiel amigo de quatro patas, um pastor alemão que imensas vezes lhe evitou graves sarilhos, acompanhava-o velando noite e dia onde quer que estivessem. Chegou a deitar-se junto do seu corpo trémulo quase gelado após ressacas que se sucediam cada vez mais frequentes tentando aquecê-lo e com uma das patas limpava-lhe o rosto de uma barba crescida sem higiene por onde passeavam insetos e a voz do desprezo abandonado pelos que passavam fingindo não o conhecer, com vergonha onde na casa que fora dos seus pais lhe engraxavam os sapatinhos e lhe chamavam o Joãosinho. Já sem dinheiro com fome e sede coberto com um capote esfrangalhado, umas botas comidas pelo tempo, calças esburacadas camisa de marca chique, mas que lhe colava ao corpo imundo, já sem forças para se levantar, pensava na morte terrível que se avizinhava, nos pais e no irmão cujas saudades lhe umedeciam aqueles olhos que tinham brilhado e hoje só viam a noite na escuridão. O cão ladrava e uivava pressentindo a morte, e João ainda teve forças para dizer: - És a minha única família, mas só te posso legar gratidão e carinho…. Do outro lado da rua, enquanto esperava a esposa e a filha que faziam compras no interior um homem presenciou a lamentável situação pormenorizadamente, e tirando do bolso do casaco comprido de um azul escuro o telemóvel fez uma chamada. As pessoas que presenciaram, concluíram que seria para a polícia, porem, um senhor fardado aproximou-se do estranho, e depois de umas instruções, atravessou a rua e foi ter com João. Olá! disse este com sotaque estrangeiro: O meu patrão encarregou-me de tratar de si e do seu cão, acrescentando que fizesse de tudo para que não lhe faltasse nada. Por onde começamos? João ficou atónito, e dirigiu o olhar para o Sr. que o saudou com as duas mãos apertadas. Um estrangeiro com coração de ouro, proprietário das melhores lojas da região. Se me permite vamos comprar roupas novas nas suas lojas, tomar um banho no seu hotel, calçar-se nas suas sapatarias e barbear-se no seu barbeiro preferido. Depois vamos comer no restaurante preferido já reservado, e só exige uma foto no fim para poder admirá-lo. E porque faz isso tudo esse homem? A essa pergunta já não posso responder, mas recomendou-me que lhe fizessem um farnel bem recheado para que não fosse a fome a matá-lo mas você a matar a fome. AB (continua)

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