sábado, 11 de março de 2023

Dia de sorte 401

Dia de sorte 401 por AB Fred vivia agora um sonho do qual receava acordar. Integrou-se com grande facilidade, embora a linguagem em atraso lhe tenha pregado umas partidinhas que guardaria para a posteridade. Afeiçoou-se de uma linda moça de origem Indiana que se chamava Naky, mas para ele era apenas Nak, a beleza e a bondade que faziam bater seu coração. Pediu-a em namoro aos pais, com os rituais do País oriundo, numa tarde quando os raios de sol brilhavam refletidos nos vidros como um apocalipse de luz, ao lado do pai que aprovava embora as relações entre eles tivessem continuado repletas de reticências, hesitações e pouca presença no seio familiar, com pouco afeto e amor inexistente que o esquecimento nutria como uma obrigação. Francisco tinha atingido a idade da “sagesse” que o trazia num reboliço medonho. Afirmado profissionalmente, mas fisicamente procurava por todo sítio a libertação, estendendo na mesa várias hipóteses. Com a evolução da medicina e financeiramente ao abrigo podia se permitir aligeirar o seu estado, mas jamais modificar o que foi concebido pelo destino, tendo prometido ao avô levar a sua cruz até ao calvário, e convicto de que tinha nascido assim, num corpo de homem estava fora de questão a mudança de sexo. Tinham sido convidados para o casamento da filha dos Miller e Francisco debateu-se com todas as forças para se libertar de uma mulher cujas intenções maléficas reacendiam cada vez que se encontravam. O marido confiava nela ou tinha receio de a perder pelo que a reação não parecia afetá-lo. Já a noite estava bem avançada quando chegou o senhor Alexander, homem de uma postura impecável, olhos azuis e cabelo loiro, alto com aparência dos seus cinquenta anos. Foi imediatamente levado para o escritório e passada uma hora para o salão de festividades. Francisco sentiu um bater de coração diferente que tentou atenuar quando o filho pareceu aperceber-se. Fausto tinha sido para ele o grande amigo, confidente e sentia por ele afeição que jamais passaria disso. Porém, quando Alexander entrou foi o germinar do que sempre refutou com todas as suas forças. Mas a atração foi mais forte e foi-se aproximando dele com o qual tentou conversar. Nada lhe garantia que aquele belo homem fosse também homossexual como ele, mas naquele momento esqueceu promessas e os preconceitos da felicidade. Conversaram primeiro de negócios, mas rapidamente se integrou o assunto principal que convinha aos dois. As confidencias ficaram em suspense visto nem um nem outro quererem ultrapassar barreiras sensíveis e doentias que podiam conduzi-los ao afronto. Separaram-se com um aperto de mão invulgar, a prova que faltava ao puzzle. Trocaram cartões de contacto perante o fascínio de um rapaz que requeria o amor que se lhe esgueirou entre os dedos.

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