terça-feira, 28 de março de 2023

O Lavrador

O lavrador por AB Vinha o lavrador da arada, daquela terra sagrada, onde o trigo foi lançado e mais tarde pelo joio comido, não fossem as mondadeiras, alegres joviais e ligeiras a arrancá-lo com doces cantos, que retiravam para os cantos onde a mirra se apoderava de seus encantos, como coisa que não presta, secava na solidão da festa enquanto a ceifa não chegasse, e o lavrador de sulcos retilíneos, que o arado puxado por vacas valentes num andar compassado e obediente, traçavam como arquitetas, que o orgulho banhava, e o suor que transbordava, caía no chão esbugalhado, ou no velho lenço de farrapos, sujo pela terra e pelo sol, no esquecimento de mais um dia e a noite que se seguia, para comer as batatas com água e azeite, o caldo de couves galegas, já tarde, depois de acomodar a tenda, e os carvalhos a crepitar, assentados num escano com mesa, e a lareira pouco acesa, seus fumos espalhava pela cozinha, correndo lágrimas a fio, de olhos enrugados e cansados, que já não sabiam o que viam, e quando a candeia dependurada, naquele cadeado entrelaçado, todo de preto banhado lhe faltava a torcida ou o gaz, deixava lentamente às escuras, mágoas lamentos e ternuras porque a vida nem sempre foi maldita, cruel, perversa nem bendita, vivendo-se cada dia que passava, como o lavrador da arada, que pelo caminho encontrava, gente com os pés negros, feridos e cansados, e numa ação de graças propunha, levar no seu carro de madeira, a desgraça e a canseira, a fome que por dentro roía, a sede que com eles corria, para saciar-se numa fonte, num poço no meio do monte, cheio de silvas e ortigas guardando a preciosidade tão desejada e esperada onde uma linda rola cantava, e o lavrador assobiava, era o concerto dos desgraçados, um viver de tempos passados.

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