sábado, 25 de março de 2023

O dia fatal. Destinos AB Dezenas de telefonemas surgiram de um lado e do outro. O consolo dos dois foi durante muito tempo ouvirem-se apenas falar. Um simples “bom dia” bastava para alegrar um dia complicado…. E de tempos a tempos marcavam um jantar a sós onde reinava a alegria, a boa disposição sem confidencias pessoais nem palavras que pudessem ferir. Um filósofo chamar-lhe ia de amor platónico. Em casa Fred apercebeu-se da metamorfose do pai, que não interferia com a sua vida pessoal e cada vez mais amorosa entre ele e a namorada que convidava, com a devida autorização, a passar lá por casa jantar onde muitas vezes se encontraram sós naquela mesa gigante que lhes servia de divertimento assentando-se um em cada extremo, Infantil mas jovial gritarem-se o amor que os fascinava, repleto de gentilezas, e provas que grande parte das vezes estão fechadas e não libertam a energia contagiante que faz das pessoas seres humanos sem complexos nem preconceitos. Francisco jamais seria um pai presente na vida de quem implorava o seu amor, ausentava-se sempre que o seu pensamento vagueava por terrenos asquerosos, guardando no coração uma traição onde não existia a possibilidade de perdão. Porém não permitia que lhe faltasse o que fosse. Era inteligente e responsável, com notas elevadas compensadas com a carta de condução e um carro novo para as suas deslocações ou passeios com a amada. Num dia em que meditava nos avós e diferençado por supostamente não ter um pai e uma mãe para beijar, ainda que fosse só no dia do seu aniversário, teve uma agradável surpresa, Francisco convidou-o para fazerem a volta da fazenda a cavalo que esperavam já prontos para a cavalgada à entrada da herdade. Perguntou-lhe qual dos dois alazões cativava a sua simpatia? Não ousou responder imediatamente, mas o seu olhar fixou o branco com malhas pretas o que não passou despercebido ao pai, dirigindo-se de imediato para o preto. Cavalgaram durante tempo indefinido por entre montes e vales, onde a verdura era rainha, como dois catraios jogando ao esconde ou á velocidade para atingir o primeiro aquela cascata, rindo e barafustando, sem falas, apenas gestos que os conduziam num paraíso nunca imaginado. Os cavalos ofegavam e era debaixo do arvoredo que faziam a pausa de descanso. Nos alforges um saco com alimentação esperava-os, e Fred começou a recear não chegar a tempo ao encontro marcado com a namorada. Já junto da cascata apearam-se e escolheram o lugar ideal para o picnic. Iam começar quando ouvira ao longe o cavalgar de um cavalo. Esperaram de ouvido à alerta e a surpresa foi alucinante quando o cavaleiro chegou junto deles. Era o amigo informado em casa do passeio dos dois. O rosto de Francisco ficou rosado e as palavras pareciam não querer sai da boca. Sentia hoje a vergonha que uns copos o tinham conduzido para o apartamento do amigo onde dormiu junto dele. Tinha quebrado o seu juramento com aquele homem loiro que amava, mas preferia que fosse em segredo. O cavaleiro saltou elegantemente para o chão e sem mais rodeios beijou na boca Francisco perante a estupefação do filho o rosto envergonhado de Francisco e o entusiasmo do amigo que se sentia à vontade pois não tinham cometido qualquer assassinato. Foram apresentados uns aos outros, comeram juntos e voltaram para a fazenda como judas que traiu Jesus.

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