ESCOLHI ESTE TEXTO DE Silvério B. Pires
QUE ILUSTREI COM AS FOTOS DE: Tó-Slalom, de Soutelo Mourisco
«As casas antigas são construídas de pedra, sendo os interiores
sombrios. As paredes e os tectos das cozinhas são normalmente escuras como
breu.
As lareiras estão acesas grande parte do ano para cozinhar e aquecer e, de Novembro até Março, penduram-se por cima da lareira grandes quantidades de porco salgado e enchidos para serem fumados.
As casas estão tão juntas que se perde a privacidade; com o simples abrir das portas da frente mostram-se imediatamente a qualquer passante as cozinhas e as salas.
Os aposentos ficam no andar de cima e em baixo os estábulos, as arrumações de produtos agrícolas ou a adega».
As lareiras estão acesas grande parte do ano para cozinhar e aquecer e, de Novembro até Março, penduram-se por cima da lareira grandes quantidades de porco salgado e enchidos para serem fumados.
As casas estão tão juntas que se perde a privacidade; com o simples abrir das portas da frente mostram-se imediatamente a qualquer passante as cozinhas e as salas.
Os aposentos ficam no andar de cima e em baixo os estábulos, as arrumações de produtos agrícolas ou a adega».
A Casa Transmontana
primitiva era térrea e formada por um único compartimento e uma única porta que
rolava sobre a soleira. Num canto acendia-se o lume, noutro dormia a família,
geralmente numerosa, e noutro salgava-se o porco.
Desde muito cedo o homem se rodeou de animais para seu benefício. Por isso precisou de lhe dar espaço próprio e alojou-o no rés-do-chão, em terra batida.
Desde muito cedo o homem se rodeou de animais para seu benefício. Por isso precisou de lhe dar espaço próprio e alojou-o no rés-do-chão, em terra batida.
A montanha ofereceu ao homem transmontano a rocha,
alvenaria de xisto ou granito, que foi desde sempre a matéria-prima nobre e
farta de que se serviu para construir a mais modesta casa rural mas também os
solares sumptuosos e apalaçados.
Subia-se ao primeiro andar pelas escaleiras exteriores de granito, ligadas à rua apoiando-se no corrimão. A casa do lavrador mais abastado era rodeada pelo espaço curral. Neste espaço, que rodeava a casa situava-se o cabanal, onde se guardava a lenha retirada do sequeiro, já partida e livre da chuva, e as alfaias agrícolas.
Era ainda o curral o lugar do recreio dos animais. Tinha uma grande fachada ou porta carral, de pelo menos três metros de altura para passarem livremente os carros de lenha ou de feno. É este amplo espaço que o lavrador chama os roussios.
Subia-se ao primeiro andar pelas escaleiras exteriores de granito, ligadas à rua apoiando-se no corrimão. A casa do lavrador mais abastado era rodeada pelo espaço curral. Neste espaço, que rodeava a casa situava-se o cabanal, onde se guardava a lenha retirada do sequeiro, já partida e livre da chuva, e as alfaias agrícolas.
Era ainda o curral o lugar do recreio dos animais. Tinha uma grande fachada ou porta carral, de pelo menos três metros de altura para passarem livremente os carros de lenha ou de feno. É este amplo espaço que o lavrador chama os roussios.
O espaço que ficava em falso sob as escaleiras, era
aproveitado para o galinheiro. Ficava um buraco na parede para as galinhas
entrarem, ao qual tinham acesso por uma tábua. Daqui surgiu a expressão popular
de, todos os dias ao pôr-do-sol “ir fechar o buraco das pitas”.
Toda a parte superior da casa assentava sobre grossas traves. |
Do cimo das escaleiras,
passava-se à varanda de madeira, rodeada por um corrimão e situada geralmente a
sul ou a nascente. É o espaço característico da casa que está a desaparecer nas
novas construções. Ajudava a varanda a defesa dos ventos agrestes e regelados e
do calor escaldante. Nela se secava a roupa estendida numa cana, se apanhava o
sol, se expunham os cacos das malvas, craveiros e manjericos, e nas canículas
se podia descansar a sesta e cerar ao fresco. Por isso, era larga para caber a
mesa e os bancos, e a camarada de segadores, e coberta com a continuação do
telhado.
A lareira é rodeada de grandes e enegrecidos
escanos de castanho, que lhes dão o aconchego e bem-estar, à volta do lume nos
medonhos serões de Inverno.
Sobre o trasfogueiro caem grossos troncos, em combustão viva e estaladiça.
Os potes de ferro, a caldeira de cobre e a borralheira, o badil e as tenazes são elementos presenciais. A saída do fumo era facilitada por um pequeno cabanal, erguido no declive do telhado.
Na trave do fumeiro penduram-se os presuntos para se ultimar a cura ao fumo.
O almário ou louceiro era enfeitado com os jornais rebicados e colados com o miolo do pão.
Era o ostentatório das peças artesanais de uso diário, na cozinha.
Por detrás da lareira, muitas vezes, surgia a boca do forno, para se cozer o pão e a borralheira que armazenava a cinza a utilizar, depois na barrela.
O colmo ou a telha vã, fabricada artesanalmente na vizinhança, cobriam a casa.
As janelas eram encaixadas
com o “espigão” na parede, seguras com a tranca, e com um banco de pedra no
interior para as pessoas se sentarem às janelas, e exterior para se colocar o
caco do craveiro ou do manjerico.
O alçapão facilitava a penetração nos baixos da casa, sem sair à rua, ou era a entrada da tulha.
Na velha arca de castanho, no canto da cozinha, guardava—se a carne de porco cozida, o pão centeio da mesa... e às vezes servia de mesa, para as refeições familiares.
É de tal modo importante a problemática relacionada com a habitação, que a cultura popular lhe consagra alguns dos seus muitos Adágios
Quando a casa está a arder, chega-se-lhe o fogo.O alçapão facilitava a penetração nos baixos da casa, sem sair à rua, ou era a entrada da tulha.
Na velha arca de castanho, no canto da cozinha, guardava—se a carne de porco cozida, o pão centeio da mesa... e às vezes servia de mesa, para as refeições familiares.
É de tal modo importante a problemática relacionada com a habitação, que a cultura popular lhe consagra alguns dos seus muitos Adágios
Quando a casa está acabada, é que deveria ser começada.
Uma casa sem livros é como um corpo sem alma.
Uma casa de fome rapa outra de fartura.
Casa onde caibas e leira que não saibas.
Em nossa casa até a cinza fria aquece.
Casa que não é ralhada não é bem governada.
Quem tem telhado de vidro não pode atirar com pedras ao telhado do vizinho.
Bem fica a fogaça alheia na casa cheia.
Em Trás-os-Montes quando alguém chama, surge logo, em pronta receptividade, a porta escancarada e a resposta:
“Entre quem é”.os seus muitos adágios
Casa abandonada |
O lavadouro e a velha e linda fonte |
4 comentários:
Tonho
Que belo artigo! É tão real, tão verdadeiro tudo quanto lá está dito. E mesmo assim, apesar do desconforto, sentimos saudades do nosso ninho. Porque era o nosso ninho que simboliza afecto e colo.
Fizeste bem em associar ao texto as casas de Soutelo, aldeia de que gosto muito e que se sabe preservar.
Beijos
Sr. António,
Que lindo artigo e que linda aldeia lhe associou para o ilustrar! Adoro estas casas típicas e as suas gentes! "Entre quem é" tão próprio dessa gente humilde e pura!
Foi com grande emoção que li este seu artigo e por isso lhe estou muito grato.
Bem-haja pelo prazer que me deu.
Um abraço
Gente da Terra
Fico imensamente grato à " Gente da Terra" pelos elogios, mas sobretudo pelo prazer que lhe proporcionou, este post... também eu gosto imenso destes lugares pelos quais tenho grande admiração e respeito!
Com os meus cumprimentos.
Fátima: desculpa pela demora a responder ao teu comentário. A azeitona não me tem deixado tempo livre.
Quanto ao teu comentário, concordo totalmente; a simplicidade das pessoas embeleza os lugares que consideramos com justa causa...
Sou fervente defensor da verdade, justiça e opreção; e, é com toda a humildade que prezo, aqueles que defendem estes valores.
Bem-hajas pelas tuas agradáveis visitas. Beijos
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